São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Novo crédito da CEF tem prós e contras

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A nova fórmula em estudo na CEF (Caixa Econômica Federal) para financiar imóveis à classe média tem pelo menos duas vantagens: cálculo de entendimento mais fácil pelo leigo e menor risco de inadimplência. O inconveniente é pesar mais no bolso do mutuário no início do contrato.
A avaliação é do professor de matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho, estudioso das várias formas de crédito que existem no mercado.
Pelo novo sistema, batizado de Sacre (Sistema de Amortização Crescente), a prestação inicial fica cerca de 30% maior do que no cálculo pela tradicional Tabela Price, afirma Dutra. A primeira prestação é calculada da mesma forma que no antigo SAC (Sistema de Amortização Constante).
A prestação mais alta no início não deixa de ser desvantajosa para o mutuário, pois comprometerá parte maior de seu orçamento. Contudo, se o compromisso puder ser assumido, haverá mais tranquilidade no futuro, pois a prestação subirá menos mais tarde.
O grande drama dos financiamentos mais recentes à casa própria tem sido a impossibilidade de pagar as prestações a partir de determinado momento. Com o Sacre, esse risco é de certa forma neutralizado.
A própria CEF tem interesse no sistema, pois a inadimplência não deixa de trazer dor de cabeça também para o agente financeiro.
"O entendimento do cálculo pelo mutuário que vai pagar as prestações é mais simples do que na Tabela Price", acrescenta Dutra.
Como funciona
No sistema proposto, a prestação inicial -sem considerar seguro etc.- é obtida da seguinte forma:
1) divide-se o valor do empréstimo pelo número de prestações do plano, obtendo-se a parcela da amortização;
2) calcula-se a quanto corresponde a taxa mensal de juros com base no valor do empréstimo, apurando-se o juro embutido na primeira prestação;
3) a soma das duas parcelas corresponde ao valor das 12 primeiras prestações;
4) findo o primeiro ano, pega-se a dívida remanescente e repete-se o processo para obter o valor da 13ª à 24ª prestação.
Por enquanto, os contratos para a classe média que estão sendo assinados na CEF, via carta de crédito, também prevêem o recálculo anual da prestação em cima do saldo devedor, mas pela Tabela Price. Os juros são os mesmos, de 12% ao ano.
Siga um exemplo
Para entender o Sacre, suponha um financiamento de R$ 25 mil, em 180 meses (15 anos), a juros de 0,9489% ao mês (12% de taxa efetiva ao ano).
Os R$ 25 mil divididos por 180 resultam em R$ 138,89. E 0,9489% do mesmo valor financiado equivale a R$ 237,22. A soma, de R$ 376,11, é o valor das prestações 1 a 12.
Na Tabela Price, a prestação inicial teria cálculo bem complicado se feito na ponta do lápis ou numa calculadora de bolso. Por isso são utilizadas as maquinetas financeiras, que dão o valor final apertando-se algumas teclas.
No mesmo exemplo, a primeira prestação pela Price seria bem menor, de R$ 290,25 -também sem contar seguro etc. Mas é na sequência que o Sacre faz diferença, como mostra a tabela elaborada por Dutra (ver acima).
Estimando-se TR de 0,5% ao mês, a primeira prestação no Sacre seria de R$ 376,11, e a última, passados 15 anos, até mais baixa, de R$ 356,27.
Na mesma simulação, pela Price, e também com recálculo anual da prestação com base no saldo devedor, a primeira prestação seria de R$ 290,25, e a 180ª, de R$ 768,82. Uma diferença superior a 100% no final, entre Sacre e Price com recálculo anual.
Se a estimativa de TR cresce, os valores acompanham, mas as diferenças ao final entre Price e Sacre se mantêm.
Com TR de 1% ao mês, a última seria 156,6% mais alta do que a primeira no Sacre, porém depois de 15 anos. Na Price, o aumento seria de 593,1%.
Tudo se explica pela amortização inicial da dívida, maior no Sacre do que na Price, o que segura a evolução futura da prestação. A parcela do juro embutido na prestação inicial é a mesma.
Na Price, a parcela de amortização corresponde a uns 17,5% da prestação inicial, e no Sacre, a 36,3%.

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