São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Peixe vira golfinho; Luxemburgo é o mestre

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

E lá vem o peixe, todo pimpão, para pegar o América nesta rodada inicial do pirotécnico Paulista de Farah.
Na verdade, nem peixe nem baleia, como rezam suas tradições: melhor seria vê-lo como um golfinho prateado, risonho, que, ao comando de seu mestre, salta, silva, contorce-se no ar antes de mergulhar graciosamente para emergir à beira do tanque à espera de afago e de novas instruções.
O mestre, claro, é Luxemburgo, que, em tão pouco tempo, deu ao Santos não apenas porte de time grande, mas, sobretudo, um futebol sincronizado, alegre, veloz e incisivo. Tanto que botou o ilustre Flamengo de Romário e Sávio na roda -não uma, mas duas vezes, aqui e lá, no sagrado templo rubro-negro do Maracanã.
Mas, agora, a festa vira guerra: interiorzão paulista, sem a abençoada proteção da regra das 15 faltas, ainda inebriado pela conquista, como se haverá o Santos?
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O segredo de Luxemburgo: cada macaco no seu galho, o que confere ao seu meio-campo um equilíbrio tal que o time joga ancorado no talento do quarteto desse setor vital. E, na ausência de um centroavante típico, dois pontas velozes se revezando lá na frente.
Como se vê, simples, não? É, mas vá lá fazer.
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Esse milionário Corinthians me faz lembrar da minha primeira visita a Jidá, na Arábia Saudita, há uns 20 anos: os carros mais díspares -desde nossas inextinguíveis Brasílias, até Rolls Royces dourados- cortando as estradas de asfalto sem calçadas. A guia era demarcada pela fileira interminável de carrões último tipo abandonados. Motivo: sobrava petrodólar, mas não havia uma única oficina mecânica no meio do deserto. Então, o carro pifava e simplesmente era abandonado ali mesmo.
Essa é a imagem que me vem à cabeça quando vejo fotos desse milionário super Corinthians treinando no terrão de Itaquera, com seus ilustres craques tendo de suportar o bafo quente na nuca de meia-dúzia de desocupados que lá passam as manhãs e tardes expelindo sua bílis.
O Corinthians, como os habitantes da Jidá, saltou direto do lombo de um camelo para uma reluzente Ferrari. Ficou faltando algo pelo caminho.
*
Há dois tricolores neste campeonato: um que estará entrando em campo contra a Lusinha de Beira-Mar; outro que está na prancheta ainda.
O de hoje recebe o reforço de Válber na zaga, embora melhor seria tê-lo ao lado de Axel, no meio-campo, e joga todas as suas fichas ainda apenas no menino Denílson e nas avançadas de Serginho.
O que virá a seguir, porém, já será um time mais equilibrado, com o excelente lateral Alberto e o ativo meia Luís Carlos. Isso sem se falar em Aristizábal e Valdir.
Como? E Renato Gaúcho mais Edmundo?
Bem, esse já é um terceiro São Paulo, cujos desígnios cabem à divina providência.
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E muita atenção para Guarani e Lusa beira-rio. O Bugre vem todo enfeitado, e a Lusa, com a majestade de vice-rainha do Brasil.

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