São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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A guerra é a mensagem

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Em tempos de ceticismo total, fim da história, fim das ideologias e fim do milênio, muita gente pode achar que não há mais espaço para a rebeldia e a subversão. Engano.
Pequenas iniciativas isoladas, a maioria nos Estados Unidos, mostram que "contestar o sistema" não é um termo fora de moda.
Nesta edição são apresentados alguns dos grupos ou indivíduos que acreditam, em plenos anos 90, em variadas formas de ativismo político e transgressão.
Como todos os rebeldes que os antecederam, eles esperam melhorar o mundo ou, ao menos, dizem, torná-lo menos pior.
Não está se falando aqui de sequestros, atentados à vida humana e atos do gênero. As ações dos novos rebeldes parecem dizer que há algo de nostálgico, para não dizer anacrônico, na ocupação, por meses, da casa de um embaixador, como os rebeldes do grupo Tupac Amaru estão fazendo no Peru.
A rebeldia, nos anos 90, se expressa por meio de atos não-belicosos e mais discretos, de denúncia, quase imperceptíveis aos olhos do chamado grande público.
Os alvos principais dos novos rebeldes não são os Estados e nações, mas a publicidade, os meios de comunicação, as grandes corporações empresariais.
A Internet, a rede mundial de computadores, por ser um meio em que as idéias e informações circulam com quase total liberdade, se tornou um dos canais preferidos dos novos rebeldes.
Mesmo um grupo contestador com um pé nos anos 60, como os guerrilheiros mexicanos do Chiapas, não cansam de usar a Internet para difundir teses e propostas.
Na contracorrente desse movimento, estão os neoluditas, ativistas que enxergam os computadores como causadores de muitos males, como o desemprego.
O nome se refere aos luditas, movimento de ingleses que, durante a Revolução Industrial, destruíam as máquinas das fábricas. Os neoluditas pregam um retorno à vida desconectada, sem fios, pré-computador. Em oposição à rebeldia online, é a rebeldia offline.
"Sabotagem criativa"
Atos chamados de "sabotagem criativa", com o propósito de denunciar, por exemplo, o machismo ou a homofobia de fabricantes de jogos para crianças e adolescentes, já fazem escola nos EUA.
Há pouco mais de um mês, um programador de computador foi demitido de uma grande empresa fabricante de jogos eletrônicos após ter alterado um joguinho que ele próprio desenvolvia. O programador introduziu uma cena homossexual no jogo, para criticar a falta de personagens gays no universo dos videogames.
A sabotagem atingiu menos de 80 mil jogos, logo recolhidos pelo fabricante, mas o efeito obtido pela sabotagem foi infinitamente maior: o caso foi noticiado pelos principais meios de comunicação do planeta, entre os quais o jornal "The New York Times".
"Nossa linguagem é a interferência cultural: esse é o ativismo dos anos 90", diz o grupo que edita a revista "Adbusters" (caçadores de publicidade), uma publicação especializada em crítica aos meios de comunicação e que coloca em circulação, via Internet, divertidas paródias a anúncios famosos.

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