São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Reino Unido constrói cem novas mesquitas

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

A comunidade muçulmana vai construir até 1999 mais cem mesquitas no Reino Unido para provar sua fé na virada do milênio.
Os templos vão custar cerca de US$ 3,4 milhões cada um e serão totalmente financiados pelos 2,5 milhões de seguidores da religião islâmica que moram no país.
Hoje, há cerca de 600 mesquitas no país, o que representa um quinto do número de templos cristãos. Dessas, 160 serão redecoradas e completamente reformadas.
Elas vão seguir o modelo da Mesquita Central de Londres, um megaprédio em frente ao Regent Park (região central) que ocupa 3.000 m2 e tem capacidade para abrigar 5.000 fiéis.
O projeto é considerado perigoso por algumas entidades que fiscalizam as ações de grupo radicais muçulmanos.
Segundo a BDBJ, uma entidade judaica britânica, a proliferação de mesquitas pode significar um risco de que novos quartéis-generais de grupos terroristas fundamentalistas sejam criados no Reino Unido.
Outra crítica à construção dos templos é feita por Ahmed Versi, editor do "Muslim News", o maior jornal muçulmano no Reino Unido.
Segundo Versi, o projeto é uma estratégia de marketing de alguns construtores para "tirar dinheiro da comunidade e enriquecer".
"Novas mesquitas são necessárias, mas o que condeno é a divulgação da construção de cem ao mesmo tempo. Eles querem tirar proveito disso", afirmou.
Megamesquitas
Os maiores templos serão erguidos em Londres e em Leeds (norte da Inglaterra), que concentram a maioria da comunidade.
A maior da capital da Inglaterra será uma localizada na Ford Square, Tower Hamlets (leste da cidade). Ela deverá ter cinco andares. As doações chegam a 20 mil libras (US$ 34 mil) por pessoa.
"As mesquitas que existem estão sempre muito cheias às sextas (principal dia de orações)", diz Gulzar Ahmed, 56, um dos construtores responsáveis pelo projeto.
As mesquitas são consideradas essenciais porque funcionam não só como locais de orações, mas como "salas de aula" para crianças e novos adeptos.
Seguidores de Maomé, os muçulmanos formam um dos maiores grupos religiosos do mundo. São 800 milhões de pessoas que se dedicam a uma vida de orações (cinco vezes por dia) e seguem um código moral rígido.
Os discípulos do Alcorão (o livro sagrado do Islamismo) se concentram principalmente no Oriente Médio e, por causa de atentados e assassinatos praticados por grupos radicais (como os xiitas, por exemplo), eles não são muito bem vistos no Ocidente.
Em Londres, a presença muçulmana é forte. Espalhados por toda a cidade, a maioria se dedica ao comércio. Na última sexta-feira, o empresário Mustafa Ahmed e suas duas filhas, Heba, 8, e Amiera, 6, rezavam na Mesquita Central.
"Venho aqui todas as sextas. Rezo e encontro os amigos. Fico feliz que novos templos sejam construídos", disse Ahmed.
Ahmed nasceu na Jordânia e vive há cerca de dez anos em Londres. Suas duas filhas fazem parte da nova geração de muçulmanos. Elas aprenderam o que é a religião com os pais e frequentam cursos sobre islamismo na mesquita.
"Elas nunca enfrentaram nenhum problema por serem muçulmanas nem tiveram qualquer resistência à educação que eu dou. Pelo contrário, adoram vir à mesquita", afirmou Ahmed, 48.

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