São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Criminosos driblam a Justiça e ficam impunes no final da novela

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Faltando cinco capítulos para o final da história, tudo indica que os criminosos acabarão impunes na novela "O Rei do Gado".
Geremias Berdinazzi (Raul Cortez) matou Fausto (Jairo Mattos). Rafaela (Glória Pires) tentou matar Geremias. Marcos Mezenga (Fábio Assunção) confessou ter enterrado Ralf (Oscar Magrini) na areia da praia.
Os vilões Geremias e Rafaela já se livraram da cadeia. O delegado Valdir (Tadeu di Pietro), apesar de ter certeza de que eles cometeram crimes, não conseguiu juntar provas suficientes.
Marcos, segundo o autor Benedito Ruy Barbosa, acaba condenado pela Justiça, mas não vai preso. A revelação iria ao ar no final do capítulo de ontem -ou irá no começo do de amanhã.
"Ele (Marcos) será condenado, mas não por homicídio culposo. Será por crime de vilipêndio de cadáver e pegará um ano de detenção, com direito de cumprir a pena em liberdade", conta o autor da novela.
"No julgamento, o advogado dele consegue com muita habilidade criar dúvidas na cabeça dos jurados e pede a condenação do réu, não por matar alguém, mas por vilipendiar cadáver. Dirá que Ralf -que antes havia sido surrado por capangas de Orestes (Luiz Parreiras)- já estava morto quando fora enterrado por Marcos. É uma grande jogada", afirma Barbosa.
Enquanto os supostos criminosos driblam a polícia e a Justiça, os "bonzinhos" morrem. Primeiro foi o senador Roberto Caxias (Carlos Vereza). Na última segunda-feira, quatro líderes dos sem-terra -defensores de soluções pacíficas para os conflitos rurais- foram mortos em uma chacina.
Os autores desses crimes serão punidos? Não, adianta Barbosa. "Isso retrata o Brasil. Você já viu alguém ser punido por alguma chacina de sem-terra no Pará?", pergunta o noveleiro.
O autor afirma que a impunidade da qual gozam Geremias e Rafaela também reflete o país. "Nesse caso, o poder econômico e a amizade influíram", diz.
"Essa impunidade não é novidade no Brasil. E agora todo mundo tem de ser punido nas novelas para não dar mau exemplo? O cacete! Na vida real isso acontece. Por que novela tem de criar mundo cor-de-rosa? Procuro retratar o que acontece no cotidiano", conclui.
Distorções
Delegados de polícia e promotores de Justiça ouvidos pela Folha não concordam com a crítica que a novela faz do Judiciário.
"A novela passa uma idéia de impunidade, o que não é condizente com a realidade. Temos casos de crimes impunes, mas temos muito mais casos de condenações", diz Eloisa Arruda Damasceno, 35, promotora do 5º Tribunal de Júri da Capital.
Eloisa diz que 60% dos processos de homicídios terminam em condenações.
Para a delegada Elisabete Sato, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil de São Paulo, a novela mostra que "delegados são vaquinhas de presépio, manipulados por quem tem poder e dinheiro". "Isso não é real."
Final feliz?
O autor Benedito Ruy Barbosa faz mistério sobre os desfechos das tramas principais da novela.
Ele tem entregado os capítulos em cima da hora à produção da emissora e as gravações só devem terminar nesta quarta-feira, dois dias antes do final da novela.
Até os principais atores dizem desconhecer o destino de seus personagens. "Não sei qual é o final do Geremias, mas torço para que seja feliz", despista o ator Raul Cortez.
Nos bastidores, ventilam várias hipóteses. No final, Bruno Mezenga (Antônio Fagundes) e Luana (Patrícia Pillar) abandonariam o luxo e passariam a viver numa casa humilde.
O fim de Geremias poderia ser morrer nos braços de Bruno, após selar a união entre os Berdinazzi e os Mezenga, ou partir para a Itália com Judite (Walderez de Barros). Rafaela acabaria só, mas rica. Há até quem aposte que Ralf apareça vivo no final.

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