São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC devia escrever diário

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Alguns criticam o presidente Fernando Henrique Cardoso por viajar demais ao exterior. Besteira.
Viajar, ao levar o homem a ampliar seus horizontes e quebrar preconceitos (em boa parte dos casos, mas nem sempre), tem em geral um efeito positivo. Desconta-se aqui o efeito mercadológico de "vender o Brasil" proposto por Fernando Henrique Cardoso.
Os indiscutíveis dotes intelectuais do presidente, contudo, sugerem que se crie uma emenda constitucional obrigando-o a escrever um diário de cada viagem que faça.
Decadência
Embora em decadência, os diários de viagem já foram importantes. Hoje, com a facilidade dos aviões, o gênero entrou em decadência. É preciso contentar-se com "Michelins", "Frommers" etc.
Os diários de viagens já tiveram, contudo, mais prestígio. O pai da história, Heródoto, alega que esteve em quase todas as partes do mundo então conhecido. É bobagem. Não se deve esquecer que os hoje palavrões "beócio" e "capadócio" se devem provavelmente a preconceitos atenienses.
Também Ulisses foi um grande viajante, mas suas surpreendentes travessias não foram um grande exemplo de retitude. Ele fazia todo tipo de sacanagem.
Revivescência
Apesar de Estrabão e Pausânias, nos séculos 1 e 2 d.C, respectivamente, terem desenvolvido o gênero literatura de viagem, ele não prosperou. Foi só com Marco Pólo, no século 13, que os diários de viagem ganharam revivescência.
Logo vieram Sterne, Rousseau, Chateaubriand e Goethe, entre outros.
Viajar é ótimo. Mas FHC contribuiria mais pelo país se se dedicasse mais a diários de viagem do que à reeleição.

Texto Anterior: 'Caixeiros-viajantes' são criticados
Próximo Texto: FHC acerta ritmo de obras para reeleição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.