São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
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Na Itália, FHC nega mudança cambial

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O presidente Fernando Henrique Cardoso acabou provocando ontem um alvoroço desnecessário ao tocar, com ênfase, na questão cambial brasileira, durante palestra realizada na sede da Confindustria, a poderosa Confederação Italiana da Indústria.
"Não consideramos a hipótese de alterar a atual política cambial. Repito, não consideramos a hipótese de alterar a atual política cambial", disse, no discurso pronunciado em italiano.
Foi o que bastou para acender os jornalistas brasileiros, ainda escaldados por incontáveis experiências anteriores de autoridades que juram que não vão tomar tal ou qual medida, para adotá-la no dia seguinte.
Ainda mais que o presidente disse também que o governo considerava insuficiente o aumento (de apenas 2,7%) das exportações brasileiras em 1996 e "estava atento à necessidade de incrementar o dinamismo delas".
Caminho óbvio
Desvalorizar a moeda é sempre um dos caminhos, talvez o mais óbvio, para estimular exportações.
Elas acabam se tornando mais baratas para quem compra, já que a moeda do país importador fica valorizada em relação à do país que exporta.
Quando o presidente voltava, a pé, da protocolar visita ao Senado italiano para a embaixada brasileira na Piazza Navona, um dos cartões postais de Roma, foi cercado pela nuvem de jornalistas.
E as duas redes de TV que cobrem o périplo europeu de FHC perguntaram justamente sobre câmbio, o que, se levado ao ar, só amplificará as suspeitas.
O presidente afirmou que "mexer no câmbio é a maneira fácil, que dá maus resultados para o povo, porque você vai ter maiores dificuldades para importar máquinas e, portanto, no futuro, menos produção".
Contas externas
FHC repetiu, mais sumariamente, as explicações que já havia dado na sede da Confindustria a respeito da situação das contas externas brasileiras.
Relembrou que o governo está atuando "na redução do chamado Custo Brasil", por meio de alívio nos impostos para exportação, ganhos de produtividade e investimentos em infra-estrutura.
"São as formas que privilegiamos para aumentar a competitividade externa dos produtos brasileiros", afirmou.
Fechou o raciocínio dizendo que o governo não pretende "voltar ao círculo vicioso desvalorização-inflação que tão perversamente marcou nossa história recente".
Aos jornalistas, reforçaria a mensagem: "Não há razão para mexer (no câmbio). Está tudo avançando com muita tranquilidade, e o Brasil está em um momento muito bom".
Identidade
O restante do discurso aos empresários na Confindustria foi a versão para o italiano do texto que FHC lera aos britânicos, na véspera, ainda em Londres.
Ou seja, o presidente manifestou otimismo sobre a situação da economia brasileira para atrair investimentos de um país que é "o quinto mais importante mercado individual do Brasil, o segundo na União Européia".
Só à noite, no jantar oferecido pelo presidente Oscar Luigi Scalfaro, FHC, além de repetir dados sobre a economia brasileira, introduziu o tema da identidade entre Brasil e Itália.
Disse na ocasião, por exemplo, que "nada é mais brasileiro e mais universal do que um Portinari e um Volpi, dois dos nossos maiores artistas plásticos".
FHC lembrou ainda que, hoje, a comunidade italiana no Brasil é formada por 23 milhões de pessoas, entre os imigrantes e seus descendentes.
Hoje, o presidente volta a conversar de comércio, mas com quem de fato manda, o primeiro-ministro Romano Prodi.
Prodi foi eleito por uma coligação de centro-esquerda encabeçada pelo PSD (sigla italiana para Partido da Esquerda Democrática, os ex-comunistas).

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