São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997 |
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Americana branca vira Musa de afoxé
DANIELA FALCÃO
Kelly Sabini, 31, é alta, branca e tem olhos azuis. Quem vê a moça parada não imagina a transformação por que ela passa quando começam a tocar atabaques e agogôs. Nascida e criada em Boston (Costa Leste dos EUA), Kelly é pós-graduada em dança afro-brasileira e já participou de companhias de danças haitianas e sul-africanas. Hoje, ensina dança afro na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Boston. "Sempre dancei balé e sofria porque era muita alta e tinha ossatura larga. Quando conheci a dança afro, descobri que essa era a linguagem ideal para me expressar." No Carnaval do ano passado, Kelly foi escalada para desfilar junto às mulheres mais velhas, chamadas de nanãs na hierarquia do candomblé. Mas o ritmo e fôlego da "gringa" chamaram tanto a atenção da presidente do bloco, que Kelly foi convidada para ser coreógrafa do "Filhas de Oxum" neste ano. "Quando pedi para as meninas me ensinarem a dança do bumbum causei o maior choque. O pessoal do candomblé só está acostumado a ver estrangeiros lá para debater problemas sociológicos, nunca para dançar bem." As 20 meninas que compõem a ala das Iansãs e que são as dançarinas do grupo olham para Kelly com estranheza e fascinação. No desfile principal do grupo, na noite de segunda, na praça Castro Alves, bastava um olhar de Kelly para que uma ou outra dançarina mais distraída voltasse à acompanhar o ritmo das demais. "Só ensaiamos seis ou sete vezes porque as meninas não tinham dinheiro nem para tomar o ônibus e chegar à sede do bloco no Pelourinho", diz Kelly, que tem tido muita dificuldade de se adaptar ao horário baiano. "Marcava o ensaio para às 14h e as primeiras só começavam a chegar meia hora depois. Às 15h conseguia reunir metade delas, e o ensaio só começava mesmo às 15h30. Ficava muito estressada", diz. Texto Anterior: Cheiro de Amor promete dançar 14 horas seguidas Próximo Texto: Falta de dinheiro faz afoxé feminino aceitar homens Índice |
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