São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
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Tudo a ver

GILBERTO DIMENSTEIN

Em Washington, desde o início da semana, o ministro Paulo Renato de Souza coleta informações sobre uma experiência, capaz de reduzir rapidamente e sem nenhum custo para o contribuinte a ignorância no Brasil -transformar todos os aparelhos de televisão numa sala de aula.
Pressionadas pelo governo, as emissoras de TV viram-se obrigadas a aceitar uma indigesta regra. Reclamaram, resistiram, fizeram lobby.
Acabaram cedendo. Enfrentar governo é fácil, mas não quiseram trombar com a opinião pública.
São, agora, obrigadas a transmitir semanalmente pelo menos três horas de programação educativa destinada a crianças e adolescentes. "Vamos ver a possibilidade de adaptar esse projeto no Brasil", disse Paulo Renato.
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A experiência revela um clima de guerra nos EUA. Só um exemplo: como se fosse convocação de batalha, estão convidando 100 mil voluntários para, gratuitamente, ajudar na alfabetização de adultos e alunos mais fracos.
O presidente Bill Clinton quer deixar a marca do político responsável pela construção da ponte para o próximo milênio. Numa operação de marketing, escolheu educação como tema mais importante.
Ele anunciou na semana passada que vai reservar US$ 51 bilhões, quase 10% de toda a produção brasileira, apenas para ajudar mais jovens a entrar na faculdade.
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Os americanos querem manter sua condição de potência mais influente do planeta. Sabem que, nos dias de hoje, apenas as armas não adiantam, não vão invadir a China, Brasil ou Japão para resolver seus conflitos comerciais e aumentar exportações.
O conhecimento é fundamental para formação de uma mão-de-obra competitiva e produtiva.
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Leviandade o Brasil abrir mão das poucas alternativas de que dispõe. Uma delas é envolver os veículos de comunicação. A criança passa mais tempo diante da TV do que numa sala de aula.
Como já provou a TV Cultura, somos capazes de fazer programas geniais de educação e, nisso, temos pouquíssimo o que aprender com os Estados Unidos.
Na sua habitual lucidez social, o patronato brasileiro retirou o patrocínio, sem saber que, a partir de agora, vão começar a perder cada vez mais dinheiro com mão-de-obra desqualificada.
Pregar globalização e liberalismo sem melhorar qualidade da mão-de-obra é como mandar um batalhão à guerra munido de tacape.
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PS - Quais são as habilidades necessárias para um indivíduo do próximo século? Essa pergunta foi feita a 55 personalidades americanas. O resumo das respostas está num texto que posso enviar por e-mail.

Fax: (001-212) 873-1045

E-mail gdimen@aol.com

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