São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
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Males emergentes poderão virar rotina, afirma OMS

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Epidemias como a do vírus Ébola, que matou 245 pessoas no Zaire em 1995, podem virar rotina nos próximos anos se não for montada uma rede global para monitorar o surgimento dos novos microorganismos que atacam o homem.
O alerta sombrio vem da OMS (Organização Mundial da Saúde) e de infectologistas do CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA), considerado o mais moderno no estudo de doenças emergentes.
Além do Ébola, fazem parte do rol de doenças emergentes causadas por vírus recém-descobertos a Aids, a "síndrome da vaca louca" e a hepatite C. O problema preocupa tanto a OMS que foi escolhido como tema deste ano do Dia Mundial da Saúde, no dia 7 de abril.
A mutação de microorganismos provoca outro fenômeno que incomoda as autoridades sanitárias: a volta de doenças que estavam sob controle e que eram de fácil combate, como a diarréia e a salmonela, e que passam a ser letais.
Os motivos apontados por especialistas para o aparecimento das doenças emergentes são as alterações climáticas e ambientais por que o planeta vem passando e o uso indiscriminado de antibióticos, que criam microorganismos cada vez mais resistentes.
Brasil e EUA
Só no Brasil, desde 1975, foram catalogados pelo Instituto Evandro Chagas, do Pará, mais de 80 tipos de vírus até então desconhecidos -30 deles podem afetar o homem. O mais famoso foi o vírus Sabiá, que em 1993 matou uma engenheira agrônoma que trabalhava no Vale do Ribeira (SP). Ela foi infectada por urina de rato e morreu de hemorragia generalizada.
No mesmo período, nos EUA, foram registrados o surgimento ou mutação de mais de 30 tipos e subtipos de vírus e bactérias que causaram reações adversas no homem -as chamadas doenças emergentes. Entre elas a "febre do vale", doença respiratória causada pelo fungo Caccidioidimycosis, que atacou a população do Estado da Califórnia entre 1991 e 1993 e exigiu gastos de US$ 45 milhões só para custear as internações.
Ou ainda a doença que ficou conhecida como "síndrome pulmonar do hantavírus", detectada em 1993 nos EUA e que causa a morte dos infectados em 50% dos casos.
Transmitida por roedores, fez vítimas até no Canadá e Brasil. O hantavírus já matou 150 pessoas, mas o número de vítimas pode ser bem maior porque nem sempre os hospitais conseguem associar a morte do paciente ao novo vírus.
Era pós-antibiótico
Se novos vírus continuarem a ser descobertos com a mesma rapidez dos últimos 20 anos, o mundo vai viver o que os norte-americanos chamam de "era pós-antibiótico". Ou seja: todas as conquistas recentes da medicina seriam inúteis diante dos novos desafios impostos pelas doenças que aparecerão.
Na América Latina, por exemplo, 20% das bactérias que causam a pneumonia já resistem aos efeitos da penicilina, hoje a droga mais eficaz no combate à doença.
"Um vírus desconhecido que apareça em uma região isolada da África poderá fazer milhares de vítimas em menos de uma semana. Basta que um infectado pegue um avião, cruze o oceano e desembarque em uma cidade populosa", alerta David Satcher, diretor do CDC de Atlanta.

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