São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
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Bucaram diz que volta à Presidência

Deposto viaja para países da AL

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A QUITO

O presidente deposto do Equador, Abdalá Bucaram, saiu ontem do país. À Folha, disse antes de viajar que iria voltar à Presidência "mais cedo ou mais tarde". Às 16h (19h em Brasília), ele viajou em um avião particular rumo ao Panamá, país onde já esteve exilado.
Hoje deve embarcar para Buenos Aires, onde quer se encontrar com o presidente argentino, Carlos Menem, seu amigo pessoal.
"Depois vou mostrar que o país é uma ditadura civil para todos os países da região", disse a redes de TV equatorianas.
Entre os países de seu giro estão Colômbia e Brasil. Os EUA também podem ser incluídos.
Na manhã de ontem, Bucaram havia falado à Folha. "Sou o presidente constitucional desse país, só que fui vítima de um golpe de Estado pelo Parlamento", afirmou.
Bucaram falou durante poucos minutos por seu telefone celular, de Guayaquil, sua cidade natal, onde estava refugiado desde a última sexta-feira. Na véspera, o Congresso Nacional do Equador votara pela destituição do presidente alegando "incapacidade mental".
Bucaram é conhecido como "El Loco", tendo se notabilizado pelas atitudes extravagantes. Nas últimas semanas, sofria uma onda de protestos contra os aumentos de tarifas públicas.
Bucaram saiu do país no mesmo horário em que foi aberta a sessão extraordinária do Congresso que iria definir o nome de seu sucessor até agosto de 1998.
Opções
Bucaram tem agora duas opções de ação quando (e se) voltar de sua viagem. Uma é tentar obstruir juridicamente a destituição.
O Congresso se valeu de um artigo impreciso da Constituição, o 100, que não especifica as regras do que fazer em caso de "incapacidade mental" do presidente.
"Como podem votar 44 deputados em duas horas e acabar com um mandato de 2,2 milhões de votos?", disse. Ele se referia ao placar da votação que o derrubou.
O Congresso equatoriano é unicameral e conta com 82 deputados. Após derrubar Bucaram, elegeu chefe de Estado interino seu próprio presidente, Fabián Alarcón.
A Constituição do país não permite que isso ocorra. O cargo deveria ser passado a Rosalía Arteaga, a vice-presidente, que de pronto acusou o Congresso de golpe.
No sábado à noite, sob uma intervenção de bastidores das Forças Armadas, ficou decidido que Rosalía assumiria a Presidência interinamente até o Congresso mudar a Constituição para poder escolher um novo presidente com mandato tampão até agosto de 98.
Corte
Para tentar obstruir o processo, Bucaram conta com a Suprema Corte do país, considerado seu reduto por analistas do país.
Há apenas indícios desse movimento. No sábado à noite, um emissário de Bucaram encontrou-se com membros da corte no hotel Akros, norte de Quito.
Segundo disseram à Folha duas testemunhas do encontro, o emissário seria um dos irmãos de Bucaram, Jacobo, que é deputado. Ele não foi encontrado ontem para comentar o caso.
Nova candidatura
A segunda opção do presidente deposto é simplesmente aceitar a situação, alternativa que evita o desgaste de um confronto direto.
Fora do país e, depois, concentrado em seus redutos eleitorais na costa equatoriana, Bucaram teria tempo de se refazer politicamente para disputar a eleição em 98.
Para evitar essa estratégia, o Partido Social Cristão enviou ontem um projeto à presidência do Congresso que visa impedir Bucaram de se candidatar a novos cargos.

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