São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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Só para doleiros

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Ontem logo de manhã na Globo, avisou-se que a CPI podia atrapalhar a reeleição, a prioridade real.
Também na Globo, depois, noticiou-se que a CPI havia mudado, para concentrar as investigações nos "doleiros". E que que o governo havia pedido a quebra do sigilo bancário dos mesmos.
Bastaram horas para que o "escândalo" que envolvia três governadores mais senadores, prefeitos, secretários, bancos, se reduzisse aos "doleiros", aos "bagrinhos".
"Bagrinho" foi a palavra usada pelo presidente da CPI no Jornal Nacional, ao dizer que não, concentrar atenção nos "doleiros" não é livrar os políticos. Tanto que quer dar anistia aos "bagrinhos", para denunciarem "tubarões".
Pode ser, mas na prática, ontem, a CPI adiou a pressão sobre os políticos e enterrou a ameaça à reeleição.
*
- A revolta toma conta dos acampamentos... Não dá para acreditar neste país por causa da violência...
Era José Rainha ontem na CBN, depois do final de semana de êxito, na repercussão de uma invasão que somou sete ou oito feridos.
E não só o final de semana. Ontem a Polícia Militar provocou novo tumulto, segundo a Globo, ao tentar deter dois sem-terra no Pontal.
E tome Covas explicando-se na Record e demais, falando em favor da reforma agrária, o quanto já fez etc. Tome a CBN dizendo que o conflito acelera o desarmamento na região. Tome cenas de vítimas na Globo, manifestações na marcha a Brasília.
Diante de tal êxito, Rainha bradar "revolta", chorar e conclamar contra a "violência", afigura-se como simulação, hipocrisia mesmo.
Era o que queria.
Produzir cadáver, no dizer do SBT, ontem.

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