São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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AL vendeu título com deságio de 37%

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

O governo de Alagoas vendeu títulos lançados no mercado com a finalidade de pagar precatórios (dívidas judiciais) com deságio de até 37,10% e recebeu, como pagamento de dívidas de usineiros os mesmos títulos, com ágio de 17%.
O ágio foi praticado por cinco usinas da Cooperativa dos Usineiros, que quitaram R$ 4,5 milhões em dívidas com a Ceal (Companhia Energética de Alagoas) com títulos que compraram no mercado financeiro.
Uma das usinas beneficiadas, a Triunfo, é a do presidente da Cooperativa dos Usineiros de Alagoas, João Evangelista Tenório. A que tinha maior dívida (R$ 1,7 milhão até 31 de março de 96) a ser paga com a Estatal pertencia à família de Jorge Toledo, então secretário de Planejamento do governo Suruagy.
A Usina Reunidas Seresta, de propriedade do senador Teotônio Vilela Filho, presidente nacional do PSDB, também consta da listas das usinas beneficiadas. Ela teria quitado um dívida de R$ 1 milhão. O presidente do PSDB não administra a usina.
Falando em nome dos usineiros, João Tenório disse à Agência Folha que os "usineiros nada ganharam na operação a não ser no prazo de dois anos para quitar as dívidas".
Consultada sobre a operação com os usineiros, a Procuradoria-Geral do Estado deu parecer contrário ao negócio. Segundo o parecer, os títulos só poderiam ser utilizados como garantia para evitar a execução judicial das dívidas.
Essas informações constam de documentos obtidos pela Agência Folha. Eles foram publicados pelo próprio governo no Diário Oficial do Estado e constam do relatório final da CPI da Assembléia Legislativa sobre o caso, cujo relatório final pede o afastamento do governador Divaldo Suruagy (PMDB).
O Banco Interfinance, que conseguiu comprar os títulos alagoanos com deságio de até 37,10%, não sofreu intervenção nem foi liquidado pelo Banco Central.
O Interfinance foi o maior comprador dos títulos de Alagoas. Do total de R$ 301,6 milhões de Letras do Tesouro Estadual emitidas, o Interfinance ficou com quase um terço -R$ 99 milhões.
O deputado federal Moacyr Andrade (PPB-AL) afirmou à Agência Folha que vai denunciar hoje o caso envolvendo o Interfinance ao senador Roberto Requião (PMDB-PR), relator da CPI do Senado que investiga as fraudes envolvendo os precatórios.
As investigações da CPI do Senado levaram o BC a liquidar 13 corretoras e 2 bancos.
"O Interfinance foi o banco que conseguiu o maior deságio e comprar o maior número de títulos e não pode ficar sem investigação. Por isso, vou levar os documentos a CPI do Senado amanhã (hoje)", afirmou o deputado.
Salários atrasados
Em uma única operação de venda de títulos para o Interfinance, o deságio de 37,10% provocou um prejuízo de R$ 17,5 milhões, valor suficiente para quitar a metade da folha de salário do Estado. Os servidores estão com seis meses de salários atrasados.
A operação foi realizada em 21 de dezembro de 95, seis dias depois de o Senado ter aprovado a resolução que permitiu o governo alagoano emitir as Letras do Tesouro Estado no mercado com a finalidade exclusiva de se pagar precatórios.
Porém, o governo não pagou nenhum dos cinco precatórios pendentes. Preferiu quitar dívidas com seis empreiteiras e bancos, que receberam os títulos com deságio médio de 14,98%, ainda segundo os documentos oficiais obtidos pela Agência Folha.
O governador Divaldo Suruagy não foi localizado na tarde de ontem pela Agência Folha. O coordenador de Imprensa do governo, Romero Vieira Bello, afirmou que o governador havia viajado para Salvador (BA) e que, assim que chegasse à capital baiana, entraria em contato com a reportagem, o que não aconteceu até as 18h40.

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