São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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Barganha de votos já rende ao 'baixo clero' dividendo político

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O apoio à emenda da reeleição de Fernando Henrique Cardoso já rende dividendos políticos para deputados do chamado "baixo clero". Com o apoio do governo federal, o deputado Welinton Fagundes (PL-MT) garantiu um empréstimo externo de US$ 65 milhões para seu Estado.
Fagundes ficou indeciso até a data da votação em primeiro turno da emenda, ocorrida no último dia 28 de janeiro. Três semanas antes, foi ao Palácio do Planalto e pediu a liberação de verbas e cargos federais em Mato Grosso. Deixou claro que se tratava de uma barganha.
'Queremos a nossa parte'
"Ou nos atendem ou não votamos a reeleição. Se quiserem, podem dizer que é fisiologismo. Isso é um jogo político. E, dentro desse jogo, queremos a nossa parte", explicou Fagundes à Folha, falando em nome da bancada.
O deputado trabalhava havia dois anos pela aprovação de um empréstimo do governo italiano no valor de US$ 65 milhões, para a substituição de 126 pontes em todo o Estado que representa.
Fagundes votou a favor da reeleição no dia 28. Uma semana mais tarde, dia 5 deste mês, a Comissão de Financiamentos Externos do Ministério do Planejamento aprovou, no final da tarde, o empréstimo de US$ 65 milhões.
Na Itália
O deputado embarcou às pressas para a Itália, na noite do mesmo dia, para se integrar à comitiva presidencial. Foi convidado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para participar do ato de formalização do acordo em Roma.
FHC prometeu mais: disse que daria na Itália um autógrafo para o filho de Fagundes. Na última quinta-feira, o ministro Antonio Kandir (Planejamento) informou ao deputado que assinou a autorização para o empréstimo.
O parlamentar mato-grossense negocia agora o seu ingresso no PSDB, partido do presidente da República. Na condição de deputado governista, deverá deixar o PL, liderado pelo oposicionista Valdemar Costa Neto (SP).
Costa Neto é autor da emenda que permite o direito de reeleição aos próximos presidentes, governadores e prefeitos e aliado político de Paulo Maluf (PPB-SP).
O empréstimo do governo italiano vai viabilizar um sonho de muitos políticos: a construção de pontes. O projeto prevê a substituição de 126 pontes de madeira por outras de concreto, grande parte delas no Pantanal do Mato Grosso.
Prejuízos
A constante queda de pontes de madeira isola regiões produtoras e afeta diretamente o escoamento da produção agrícola. Além disso, o governo do Estado gasta R$ 3,2 milhões por ano com a manutenção das pontes.
"Com a construção das novas pontes, o governo reduzirá o custo de manutenção, podendo usar esse dinheiro em outros projetos", disse Fagundes.
O deputado afirma que o projeto vai beneficiar 94% da população do Estado, além de criar novos empregos diretos e indiretos. O pagamento do empréstimo se dará em oito anos e meio, com três anos de carência, com juros entre 5,25% a 8,75% ao ano.

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