São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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Argentinos criticam controle sanitário

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

Os especialistas argentinos e associações de consumidores colocaram em dúvida a qualidade do controle sanitário dos alimentos industrializados do país.
"Enquanto não existir mecanismos sérios de controle, ninguém poderá ter absoluta certeza de que o que é consumido é confiável", afirmou Ricardo Delfino, organizador do Encontro Latino-Americano de Bromatologia em 1996.
"Na Argentina, esses controles por parte do Estado são muito fracos", completou Delfino.
Atualmente, o ministério de Saúde brasileiro se movimenta para criar um controle sanitário dos alimentos industrializados que forem importados, apesar da oposição da Argentina e de seus produtores.
A iniciativa da medida é do secretário de Vigilância Sanitário, Elisandro Carlini, quem entrou em polêmica pela imprensa sobre o tema com o embaixador argentino em Brasília, Diego Guellar.
Uma primeira tentativa de regulamentação aconteceu em janeiro, mas foi retirada em consequência das pressão diplomática argentina.
O país, sócio do bloco econômico Mercosul junto om Paraguai e Uruguai, exportou em 1996 US$ 1,2 bilhão em alimentos elaborados ao Brasil, principalmente produtos lácteos, frutas e peixes.
Os argentinos argumentam que o controle sanitário é uma barreira ao comércio entre os dois países.
Segundo Delfino, as regulamentações do Mercosul -que exige rótulo, data de fabricação e vencimento e composição da mercadoria- farão que os produtos argentinos tenham melhor controle.
A Argentina já regulamentou essas normas do bloco econômico, mas a infra-estrutura de controle ainda é deficitária.
"No interior do país, há muitos municípios sem nenhum inspetor sanitário. A crise econômica piorou muito isso", afirma o professor de bromotologia Carlos Andrada.
Casos fatais
O mesmo atestado é dado pela Adelco (Ação dos Consumidores), maior associação de defesa do consumidor na Argentina.
"Nossos resultados demonstram que 30% dos alimentos comercializados no país têm algum problema. E 6% tem falhas críticas, arriscando a saúde de quem os adquire", disse Guillermo Zucal, coordenador-chefe da entidade.
O país viveu uma onda de denúncias de produtos contaminados durante os anos de 1992 e 1993.
Os casos mais graves foram a de um vinho misturado com metanol (27 mortes) e um própolis adulterado (23 mortes).
Na época, o presidente Carlos Menem, cuja família tem uma vitivinícula na Província de La Rioja, disse que os fabricantes do vinho Valle de Pancana deviam ir fuzilados no "paredón".
Se somaram a esses casos problemas com queijos, sorvetes, iogurtes, sucos, latas de tomate, hambúrguer, água sanitária e água mineral que não cumpriam as normas exigidas.
Em 96, o caso mais célebre foi o das laranjas da Província de Entre Ríos, que eram pintadas com anilina, produto cancerígeno. Os atravessadores cobravam US$ 1 por caixa para colocar as naranjas em um caldeirão de água quente e anilina para dar nova cor à fruta.

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