São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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Concorrência de parceiros gera protesto argentino

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

Uma coluna de 2.000 caminhões termina hoje uma marcha de protesto na Argentina contra a concorrência de transportadoras dos demais países do Mercosul.
Segundo o sindicato de motoristas do país, a desregulamentação do setor na Argentina permitiu a hegemonia das empresas estrangeiras, que atualmente dominam 93% do transporte local.
"Falou-se que o Mercosul geraria emprego. Há dois anos, havia 3 mil caminhoneiros argentinos que faziam transporte internacional. Agora, são 900", afirmou o dirigente Victor Hugo Pestino.
O protesto se iniciou na Província de Mendoza, fronteira com o Chile, e chegaria até a cidade de Luján, a 60 km de Buenos Aires.
Ontem, o comboio de 50 quilômetros atravessou a Província de Santa Fé, causando um grande congestionamento na rodovia 7.
"A concorrência é desleal no Mercosul. O salário dos brasileiros é 60% menor do que o nosso, e as empresas chilenas de transporte recebem subsídio", disse o presidente do sindicato, Hugo Moyano.
Outra queixa dos caminhoneiros argentinos é a exploração por parte dos brasileiros do transporte de cabotagem na Argentina.
Na quinta-feira, Moyano se encontra com o ministro do Interior, Carlos Corach, para apresentar outro protesto: as filas e a demora nas alfândegas, principalmente com o Brasil, em Uruguaiana (RS).
No dia 16 de dezembro, caminhoneiros de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile fizeram uma paralisação de protesto em três zonas de fronteira.
O ato foi a primeira greve conjunta entre trabalhadores dos países do bloco econômico.
A manifestação aconteceu na véspera do último encontro de presidentes do Mercosul.
Mas não só caminhoneiros reclamam com seus colegas de bloco econômico: as montadoras argentinas de caminhões também.
Na semana passada, foi cancelada construção da nova fábrica que a Iveco, fábrica pertencente à Fiat, na cidade argentina de Córdoba.
O investimento de US$ 120 milhões deve ir para o nordeste brasileiro, aproveitando isenções fiscais criadas em dezembro por FHC.
As exigências dos sindicatos de trabalhadores de Córdoba também motivaram a fuga do capital.
As montadoras argentinas acusam o Brasil de iniciar uma corrida pelo investimento estrangeiro e exigem compensações, como o aumento da importação brasileira de veículos argentinos.
Para tratar disso, o secretário de Indústria e Mineração argentino, Alieto Guadagni, viaja na quinta-feira ao Brasil, onde se reunirá com o ministro Francisco Dornelles (Indústria e Comércio).

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