São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Não faço apologia a drogas', diz Saunders

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

O ecstasy é uma droga "muito especial", que ajuda as pessoas a se conhecerem melhor. Essa é a tese desenvolvida por "Ecstasy", livro escrito pelo inglês Nicholas Saunders, 58, que está sendo lançado hoje em São Paulo.
Saunders quis mostrar o "outro lado" da droga que, no Reino Unido, é hoje uma das principais preocupações de grupos antientorpecentes por causa do grande uso por adolescentes.
"Quando usei pela primeira vez, ela teve um efeito mágico, me deixou muito feliz. Me fez pensar sobre o meu estado emocional. O potencial dessa droga para uso psicanalítico é imenso", disse Saunders à Folha.
Refazer a imagem da droga, "acabando com os preconceitos", deu tão certo que, há quatro anos, o ex-comerciante e ex-hippie Nicholas Saunders encerrou seus negócios para se dedicar apenas a escrever livros sobre novas substâncias.
A decisão foi tomada após o sucesso editorial do livro, lançado no Reino Unido em 1993. "Ecstasy" está esgotado e é considerado um best seller, tendo vendido 250 mil cópias.
Seu próximo livro já está em andamento. Desta vez, o escritor vai contar as experiências que teve, em maio do ano passado, no Peru, Venezuela e Bolívia, com novas drogas.
"Não faço apologia de drogas, mas acho que o lado bom tem que ser aproveitado", disse Nicholas Saunders.
A seguir, leia os principais trechos da entrevista concedida à Folha.
*
Folha - Por que você decidiu escrever sobre isso?
Nicholas Saunders - Experimentei ecstasy pela primeira vez em 1984. Na época, estava deprimido, me sentindo cansado. A droga teve um efeito mágico, me deixou feliz. Me fez pensar sobre o meu estado emocional dos últimos tempos.
Até então não tinha me dado conta de como eu estava deprimido. Aquela sensação de felicidade, que a droga me proporcionou, me fez entender a minha depressão e tentar revertê-la.
Folha - Foi como um remédio...
Saunders - Exatamente. Alguma coisa que me forçou a ver como eu precisava mudar. E foi esse efeito terapêutico que me fez pensar em contar a minha experiência em um livro.
Folha - Na sua opinião, o ecstasy pode ter mais efeitos positivos do que negativos?
Saunders - Claro que tudo depende de como ela é usada, mas o potencial do ecstasy para uso psicanalítico é imenso. Estudei e estou estudando a força de algumas drogas desse ponto de vista e acho que o ecstasy é uma das que mais proporcionam um efeito rápido e positivo.
Folha - Você acha que a imagem da droga tem que ser refeita?
Saunders - Acho. Há muita coisa errada sobre o ecstasy publicada nos jornais todos os dias. Isso ajuda a criar um preconceito.
Folha - Mas você não acha que as pessoas também têm que ser alertadas para o perigo da droga?
Saunders - Claro que sim, mas com mais informação e menos opinião.
Há pouca pesquisa sobre os efeitos da droga e ninguém fala sobre esse efeito especial que a droga tem.
O que tem que ficar claro para as pessoas é que tudo o que faz bem também pode fazer mal.
Folha - Que efeito?
Saunders - Ela permite que as pessoas cheguem ao seu "fundo" sem sair da realidade. É espantoso. Uma sensação forte de que você está vivo e livre. Por isso, pode ser muito útil para a psicoterapia.
Folha - Ouvindo você falar sobre o ecstasy, muitas pessoas o acusariam de estar fazendo uma apologia à droga. Você já teve problemas por causa das suas opiniões ou do livro?
Saunders - Não tive nenhum problema. Não quero fazer nenhuma apologia, mas acho que o lado bom do ecstasy tem que ser aproveitado.

Lançamento: "Ecstasy e a Cultura Dance" (295 págs.)
Quando: hoje, às 20h
Onde: The Cube (rua da Consolação, 2967)

Texto Anterior: 'Bahia de Todos os Sambas' estréia na BA
Próximo Texto: Livro reflete nosso mundo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.