São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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'Bahia de Todos os Sambas' chega ao país

PATRICIA DECIA
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

Depois de passar pelos festivais de Veneza e Havana, foi exibido anteontem pela primeira vez no Brasil "Bahia de Todos os Sambas", de Paulo Cézar Saraceni e Leon Hirszman.
A pré-estréia aconteceu em sessão especial na Casa do Comércio de Salvador, com a presença de Saraceni, Osmar Macedo (do trio elétrico Dodô e Osmar) e Fiorella Amico, viúva do idealizador do filme, o italiano Gianni Amico.
"Bahia..." é o registro de um festival dedicado à cultura baiana, realizado em agosto de 1983, na cidade de Roma.
Durante nove noites, apresentaram-se na capital italiana, entre outros, Dorival Caymmi, Batatinha, João Gilberto, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Moraes Moreira.
Concebido por Amico, o festival fez uma homenagem ao cineasta Glauber Rocha, com a exibição de "A Idade da Terra" em sua abertura.
Todo patrocinado pela prefeitura de Roma, o evento reuniu cerca de 150 músicos brasileiros, além de capoeiristas e representantes do candomblé.
O resultado foram 36 horas de imagens, condensadas agora em 1h40 para a exibição nos cinemas. "Não considero que seja documentário. Pode chamar de filme-concerto, como os europeus, mas prefiro dizer que é um documento musical", disse Saraceni.
Demora na finalização
Uma série de reviravoltas envolvendo briga na Justiça e falta de dinheiro de patrocínio, além das mortes de Hirszman e Amico, acabaram por impedir a finalização do filme durante 13 anos.
"Os produtores do show queriam produzir também o filme, o que não era direito. Quando conseguimos vencê-los na Justiça, Leon estava ocupado filmando 'Imagens do Inconsciente'. Aí fui filmar 'Natal da Portela'. Então, Leon ficou doente e foi uma grande tristeza. Eu não queria mais fazer o filme, mas, antes de morrer, em 90, Gianni pediu que eu o terminasse", contou Saraceni.
A maior dificuldade para conseguir o patrocínio, segundo o diretor, aconteceu porque os negativos estavam presos na Itália e, sem nada para mostrar, ninguém acreditava que tal elenco estaria reunido num filme.
"Todo mundo acabou ficando muito mais importante do que era naquela época", disse.
Com a entrada de Fiorella Amico e Elio Rumma como produtores, o filme enfim foi terminado -com custo estimado em cerca de US$ 500 mil- dias antes do festival de Veneza.
"Bahia de Todos os Sambas" está sendo exibido no cinema do Museu, em Salvador e ainda não tem previsão de chegar a Rio ou São Paulo.
"Estamos conversando com a RioFilme e com a Lumiére, para tentar acertar a distribuição. Acredito que o filme vá ser exibido em cinemas de arte e depois na televisão e em vídeo", afirmou Saraceni.
O público italiano já pôde assistir a extratos de "Bahia de Todos os Sambas" pela televisão, num especial da emissora Tele Piu e em documentário exibido pela RAI.

A jornalista Patricia Decia viajou a convite da LGM Produções Artíticas

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