São Paulo, sábado, 8 de março de 1997
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Para dono da IBF, Split lidera esquema

FÁBIO SANCHEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Ibraim Borges Filho, 37, dono da IBF Factoring e autor de um dos depoimentos mais importantes à CPI dos Precatórios, acredita que o dono da distribuidora Split, Enrico Piccioto, é o líder das operações ilegais no mercado financeiro que estão sendo investigadas.
Além de indicar Piccioto como líder, Borges Filho complica a situação de outro personagem que ainda não foi investigado pela CPI: Pedro Mammana Moquedace, seu amigo desde os 14 anos.
Diz que Mammana lhe apresentou pessoalmente a Piccioto e cuidou da burocracia para a abertura da conta corrente na qual a Split movimentou R$ 123 milhões com cheques que assinava em branco.
Ibraim deu essas declarações na tarde de sexta-feira, falando à imprensa pela primeira vez depois de seu depoimento à CPI, em entrevista exclusiva à Folha :
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Folha - Quem são os líderes do esquema de operações ilegais no mercado financeiro?
Borges Filho - Pelo que pude perceber, é o Enrico Piccioto, da Split. O Pedro Mammana fazia uma ponte entre a Split e as empresas de fachada, sem que o nome dele aparecesse. Talvez, com a quebra do sigilo bancário da Split, encontrem alguma ligação do Piccioto com o Pedro.
Folha - O que Mammana disse?
Borges Filho - Seria aberta uma conta corrente e o Pedro passaria a fazer as operações. Foi o próprio Pedro quem me procurou, ofereceu o negócio e trouxe cadastros para serem preenchidos.
Folha - Quando você percebeu que se tratava de um esquema ilegal com títulos públicos?
Borges Filho - Quando vi as notícias sobre o esquema envolvendo o Celso Pitta e a Prefeitura de São Paulo, em outubro. Perguntei ao Pedro se o que a Negocial fazia com a prefeitura era o mesmo que nós estávamos fazendo. Ele negou, disse que não era tão arriscado, seria algo mais documentado. Nunca me revelou muitos detalhes do esquema dele com o Piccioto.
Folha - O seu contato com a Split é bem antigo. Em 1993, outra empresa sua, a DP Parafusos, já negociava no mercado de futuros com a Split. Também foi o Pedro Mammana quem lhe apresentou?
Borges Filho - Parece que corre um processo sobre isso na Justiça, e eu não sei direito como ele está. Prefiro não dar declarações sobre isso agora.
Folha - Por que você resolveu entrar no esquema?
Borges Filho - Entrei nisso por causa de um problema de família. Quando meu segundo filho nasceu, em novembro de 1994, ele precisou ficar por dez dias na UTI do Hospital Santa Izabel. Isso me deu uma quebrada. O próprio Pedro Mammana me emprestou dinheiro na época. Como era um amigo que me indicava, me senti mais seguro. Eu não fazia idéia de que isso seria esse escândalo.
Folha - O que você pensa de Mammana hoje?
Borges Filho - Acho que ele foi omisso. Veja que eu fui até mesmo sem advogado lá na CPI. Ele não me ajudou em nada. Ele achou que a história não chegaria nele.
Folha - Como você avalia o mercado financeiro?
Borges Filho - Acho que tem que mudar depois da CPI, que está se saindo bem. Isso é necessário porque o mercado financeiro não tem fiscalização, então muita gente se aproveita. Quem fiscaliza a Bolsa de Mercadorias, a Bolsa de Valores?
Folha - Você se arrepende do que fez?
Borges Filho - Eu achava que não tinha cometido nenhum crime. Agora estou achando que sim. Fui muito ingênuo, mas agora não adianta ficar dizendo que eu não estava no esquema. Estava mesmo. Mas não sabia nem que aquilo envolvia títulos públicos. Eu diria para as outras empresas que estão envolvidas nisso que digam a verdade. Não adianta mentir, como eu tentei fazer na CPI. Quando se fala a verdade, nunca se cai em contradição.

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