São Paulo, sábado, 8 de março de 1997
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Os personagens investigados pela CPI e pelo BC

As prefeituras e os Estados
Prefeituras e Estados emitem títulos (uma espécie de nota promissória) para fazer caixa e pagar dívidas judiciais (de desapropriações, por exemplo). As dívidas são os chamados precatórios
As investigações apuram dois tipos de fraudes:
1) prefeituras e Estados que emitiram mais títulos do que o valor dos precatórios a pagar;
2) E bancos e corretoras que tiveram lucros exorbitantes na venda desses títulos no mercado financeiro para prefeituras e Estados

As corretoras
As corretoras ganhavam dinheiro no negócio comprando os títulos em leilões (única forma de os títulos serem colocados no mercado). Elas compravam os papéis com descontos muito maiores do que o normal.
De posse dos títulos, as corretoras os revendiam a preços cada vez mais altos no mercado. Ganhavam muito dinheiro no negócio -já que compravam por R$ 10, por exemplo, e revendiam por R$ 20.
A base da desconfiança da CPI e do BC é uma só: por que as prefeituras e Estados venderam seus papéis a preços tão baixos para as corretoras, que ganharam muito dinheiro com a sua revenda

Os "Laranjas"
Para esconder os lucros exorbitantes que tinham com os negócios, as corretoras usavam endereços, contas e registros de empresas "laranjas". "Laranjas" são empresas que não têm a menor condição de mexer com o volume de dinheiro que movimentam. São empresas de fachada.
Os "laranjas" eram usados apenas para acobertar os negócios ilícitos das corretoras -e dos Estados e prefeituras.
Nessas operações, os "laranjas" ganhavam de 0,2% a 0,3% do total do dinheiro movimentado pelas corretoras

O dinheiro
O dinheiro sumiu. Ninguém sabe, ainda, onde ele está e para o bolso de quem foi. Desconfia-se de que foi parar no exterior. Como? Por enquanto, há apenas uma hipótese: doleiros recebiam cheques das empresas "laranjas" e mandavam o dinheiro para fora do país, fazendo depósitos em contas de residentes no exterior. Mais tarde, o dinheiro poderia voltar ao Brasil "lavado"

O que foi levantado até agora
. Celso Pitta: O BC e a CPI acreditam que o ex-secretário das Finanças de SP, Celso Pitta, sabia das irregularidades. Há um relatório do BC que confirma essa suspeita. Diz que o atual prefeito de SP agiu de "má-fé" e que autorizou negócios que geraram "prejuízos exorbitantes" e lucros "absurdos" para corretoras
Até agora, Pitta nega. Diz que as operações foram normais e já se prontificou a ir à CPI contar sua versão
. Wagner Ramos: é o ex-coordenador da Dívida Pública de São Paulo e considerado pela CPI como um dos pivôs das irregularidades
Ramos trabalhava para uma corretora, a Perfil, para vender títulos do Estado de Pernambuco. Ganhou R$ 150 mil pelo serviço. Ramos acabou sendo afastado de seu cargo na prefeitura
. Em Alagoas, já se sabe que só foi possível emitir títulos com a apresentação, pelo governo, de documentos falsos. E o dinheiro, que era para pagar dívidas judiciais, pagou débitos com bancos e empreiteiras
. Após o depoimento de Ibrahim Borges Filho, dono da empresa "laranja" IBF, o Banco Central apreendeu documentos de quatro corretoras paulistas e de um banco carioca. Ibrahim contou que recebeu R$ 210 mil dessas corretoras para virar um "laranja"
. No dia seguinte, o BC voltou à carga: as cinco instituições que operaram com Ibrahim, além de outras dez, foram liquidadas. Todas acusadas de irregularidades nas negociações com títulos públicos
. Todos os seus documentos estão agora com o BC, que vai investigar mais profundamente a atuação delas no esquema dos títulos públicos
. Quase nada aconteceu aos "laranjas" até agora. O "laranja" Ibrahim Borges Filho ficou sob proteção da Polícia Federal depois de seu depoimento à CPI
. Outros estão sendo ouvidos pela CPI e deverão ser investigados pela Polícia Federal e Receita Federal para que revelem as ramificações que tiveram com as corretoras e para onde foi o dinheiro que passou por eles
. A CPI já divulgou uma lista de 18 nomes de pessoas e empresas que teriam recebido R$ 64 milhões em cheques dos "laranjas"
O dinheiro não é dos "laranjas", só passou por eles. Foi levantado, de fato, nos negócios dos títulos
Saiu dos cofres públicos e foi parar ainda não se sabe onde
E é examente isso o que a CPI e o Banco Central querem saber

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