São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Dinheiro está disperso no país

JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma parcela significativa das finanças do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) está espalhada em contas conjuntas abertas no banco Bradesco por duas razões: o número de agências no país, especialmente em pequenas cidades, e a facilidade com que esse banco abre contas.
O dinheiro circula especialmente nas instâncias regionais e estaduais do MST.
Sintomaticamente, o movimento dificulta o acesso a essas estruturas e não revela, por exemplo, quantas e quais são as regionais em cada Estado. Mas fica claro que são elas que, em mais de um sentido, sustentam hoje o MST.
Reuniões periódicas entre quem dá o dinheiro e quem o administra garantem o controle. Em caso de dúvida, a Direção Estadual e, por extensão, a Nacional se reservam o direito de promover uma auditoria nas contas de quaisquer instâncias do MST.
As instâncias nacionais são mantidas por contribuições das estaduais que, por sua vez, são mantidas pelas regionais. Na estrutura do MST, o poder e o dinheiro vêm de baixo para cima. Todos os valores são acertados individualmente, de acordo com a arrecadação em cada Estado.
Teto de R$ 980,00
Oficialmente, um "profissional" com dedicação exclusiva ao MST como João Pedro Stédile, da Direção Nacional, ganha o teto salarial fixado pelo movimento: R$ 980,00 mensais, mais uma ajuda correspondente a 30% do aluguel da casa em que ele mora, no bairro de Perdizes, São Paulo.
Economista diplomado, casado, quatro filhos entre 19 e 11 anos de idade estudando em escolas públicas, Stédile diz que só consegue viver porque adotou os "princípios de franciscanismo" do MST.
Advogados e agrônomos que prestam serviços para o movimento, para a ANCA e a Concrab ganham tanto quanto Stédile. Mas há fórmulas diferentes para cada caso. Egídio Brunetto é um exemplo.
Assentado em Santa Catarina e membro da Direção Nacional há oito anos, ele tem o aluguel de uma casa em Goiânia, de onde dirige o MST hoje, integralmente pago, além de uma ajuda de custo de R$ 300,00 mensais.
A cooperativa de seu assentamento envia a ele mais 50% do que cada associado retira mensalmente, ainda que Brunetto não trabalhe mais na terra.

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