São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Médicos adotam práticas dispensáveis

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Boa parte dos procedimentos médicos praticados durante o parto seriam dispensáveis ou feitos de forma inadequada. É o que se depreende das rotinas adotadas em muitos hospitais e de estudos citados por grupos como o Rehuna, uma rede de profissionais médicos voltada para a humanização do parto.
A transformação do parto em procedimento hospitalar foi consenso até os anos 50. A partir dos 70, constatou-se que muitos atos médicos resultavam em mais danos que benefícios.
"Há estudos mostrando que a episiotomia -o corte do períneo (região entre o ânus e o órgão sexual) na hora do parto- é benéfico em apenas alguns casos", diz a médica sanitarista Simone Grilo Diniz, que estuda as tecnologias empregadas no parto. "O corte aumentava a incidência de queda da bexiga e do útero e piora a vida sexual da paciente."
Na grande maioria das escolas de medicina, a episiotomia é adotada como rotina para o primeiro filho. No Caism, da Unicamp, apenas 12% das mulheres são submetidas a esse procedimento.
As opiniões de Simone refletem o consenso da Rede Nacional de Saúde da Mulher, que reúne 130 ONGs e entidades públicas.
Seu estudo condena a posição horizontal em que a mulher é colocada para parir. Os médicos concordam que esta postura dificulta a circulação sanguínea e os movimentos para a expulsão do bebê. Ainda assim, a cama é empregada na grande maioria dos serviços.
Em alguns deles, inclina-se a cabeceira da cama ou apóia-se as costas da paciente em travesseiros. "É menos pior, mas continua sendo desumano", diz médico Hugo Sabino, do Grupo de Parto Alternativo da Unicamp.
Segundo o médico, quando acompanhadas durante o pré-natal, 70% das mulheres conseguem parir de cócoras, sem uso de medicação e ajuda médica. Uma cadeira, especialmente desenhada, tornou essa posição mais confortável. "De cócoras, o canal do parto fica 28% mais largo", diz. "É bom para a mãe e o bebê."
A médica Simone Diniz diz que a adoção de procedimentos inadequados leva necessariamente a outros: deitada, a mulher terá de receber drogas que induzem a contração, que por sua vez aumentarão a dor, exigindo anestesia e o corte do períneo.
Nas suas recomendações, o Grupo de Parto Alternativo da Unicamp diz que não se justificam taxas de cesáreas superiores a 15% e que uma primeira cesárea não impede um segundo parto normal.
Diz que a anestesia e a episiotomia de rotina devem ser evitadas, que o recurso à indução não deve passar dos 10% dos casos, e que não há razões científicas para a raspagem dos pelos pubianos antes do parto.

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