São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Favela abriga ambulatório modelo

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ambulatório-maternidade que ostenta os melhores indicadores do país- segundo critérios da Organização Mundial da Saúde- fica bem no meio da favela Monte Azul (zona sul de SP).
Ali, as complicações e cesáreas somam 3%, as mulheres não são isoladas, não se usam drogas, e o índice de episiotomia -corte do períneo para ajudar a saída do bebê- é de 17%.
Na rede de hospitais privados o índice de cesáreas chega a 70%, na pública, a 40%. A episiotomia chega a 100% nos hospitais convencionais quando se trata do primeiro filho.
Na favela, o fórceps não é utilizado e em apenas 0,5% dos casos emprega-se o extrator de vácuo, para ajudar na expulsão do bebê.
Em lugar da clássica equipe com obstetra, anestesista e pediatra neonatal, uma parteira assiste o nascimento acompanhada por uma auxiliar de enfermagem e alguém da família da mãe.
O pai senta-se sobre a cama, com as pernas abertas, e apóia a mulher pelas costas, substituindo as camas obstétricas.
Para aquelas mães que preferem outra postura, o ambulatório construiu um banquinho, onde se dá à luz numa posição semelhante à de cócoras.
Desde que foi criado, em 1985, 900 crianças já nasceram ali, a grande maioria pelas mãos da parteira Angela Geherke da Silva. "Em apenas 3% dos partos, as mulheres precisam ser conduzidas a um hospital", diz.
Nesses casos, a paciente é levada na própria Parati de Angela.
Os índices são ainda mais impressionantes quando se considera que 30% dos partos feitos ali são de adolescentes. "Nunca tivemos a morte de uma mãe nem de uma criança."
O ambulatório ocupa um prédio de dois pavimentos onde também são oferecidos atendimento odontológico, consultas ambulatoriais e pré-natal.
A Associação Comunitária Monte Azul, ajudada com doações de famílias da Alemanha, também mantém creche, oficina e um grupo de teatro.
Angela se formou parteira num curso de três anos em Stuttgart, na Alemanha.
Naquele país, a lei obriga que todos os partos normais sejam acompanhados por parteira. Nesses casos, a presença de um médico é opcional.
"Graças ao trabalho das parteiras, o índice de cesárea na Alemanha é 11%", afirma.
Logo que foi aberto, o ambulatório fazia cerca de 20 partos por mês. Agora são mais de 200, com mulheres de toda a região. Todas fazem o pré-natal ali.
Em 70% dos partos, os pais estão presentes. "Nunca nenhum deles desmaiou", diz Angela.
(AB)

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