São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Medo faz mulheres adiarem maternidade

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Medos da gravidez e do parto, justificados ou difusos, estariam levando grupos de mulheres a adiarem ou abrirem mão do projeto de ter filhos. Pesquisa nos EUA revelou que muitas delas se assustam com a dor, têm medo de engordar, de ver os seios caídos, de estragar sua vida sexual, de perder o companheiro e o emprego.
No Brasil -onde não há pesquisas-, os médicos tendem a acreditar que o instinto materno ainda fala mais alto que os medos. "O que está havendo, aqui como lá fora, é uma tendência a adiar o casamento e a gravidez por razões profissionais", diz Thomaz Gollop.
"Não há redução do prazer em mulheres que têm filhos", diz Nelson Vitiello, da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana.
É possível que muitas mulheres cancelassem seus projetos de mães se antes assistissem a um parto em hospital público. Tania Lago, do programa saúde da mulher da Secretaria da Saúde, diz que já estão sendo feitas reuniões para humanizar as práticas do parto.
Em maio próximo, serão feitos seminários com médicos de todo o Estado para debater as práticas obstétricas. "Há uma resistência por parte dos profissionais em mudar procedimentos como, por exemplo, a posição horizontal na hora do parto", afirma. "Ainda há médicos que xingam e gritam com as pacientes."
Mesmo a idéia de valorizar a enfermeira obstetra como parteira encontra resistência.
A qualidade dos serviços também deixa muito a desejar. Um levantamento feito no ano passado entre 470 maternidades conveniadas com o SUS no Estado mostrou que apenas 105 tinham taxa de cesárea inferior a 50% -na Europa, a taxa é de 15%. E apenas 62 serviços ofereciam condições mínimas para realização dos partos.

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