São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Déficit de crescimento econômico

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil foi de apenas de 2,9% no ano passado. Considerando que a população está crescendo cerca de 1,6% ao ano (uma taxa de crescimento populacional relativamente baixa para um país com nossa dimensão), a renda per capita cresceu apenas 1,3%.
Esta é uma taxa de crescimento pífia para um país que poderia estar crescendo a 6% ou 7% ao ano, com um ganho de renda per capita da ordem de 5,3% ao ano. A implicação de baixas taxas de crescimento é que congela-se o quadro de miséria da população mais pobre e mantém-se a situação perversa de grande desigualdade na distribuição da renda.
O PIB real do Brasil, já descontada a inflação, cresceu 114,3 vezes entre 1900 e 1996. Iniciamos este século com cerca de 17,3 milhões de habitantes e uma renda per capita equivalente a US$ 363,2 em dólares correntes. Em 1996, nossa população cresceu para 158,6 milhões e a renda per capita foi de US$ 4.540.
Nos 96 anos compreendidos entre 1900 e 1996, a taxa de crescimento real do PIB foi de 5,1% ao ano, com a população crescendo 2,3%, e a renda per capita, 2,7% ao ano. Uma informação importante para ser sublinhada é que o crescimento da economia brasileira foi bastante vigoroso nesse século.
Isso só ocorre nos países que formam as instituições sociais e ética de trabalho favoráveis ao crescimento. De uma perspectiva mais estrutural, pode-se dizer que o Brasil possui as condições necessárias para crescer a taxas mais altas.
No entanto, quando se analisam os números do período recente, conclui-se que estamos com um déficit de crescimento. A taxa de crescimento anual da renda per capita foi de 3,2% entre 1900 e 1980. Mas a elevação da renda per capita, que resulta em diminuição da pobreza, caiu para 0,1% ao ano entre 1980 e 1996. Mesmo no período mais recente, de 1990 a 1996, o crescimento da renda per capita recuperou-se pouco, para um média de 1% ao ano.
A crítica que pode ser feita à política econômica atual é que, devido ao fato de ter adotado uma âncora cambial defasada e escorá-la com uma política de juros reais absurdos, condenamos o país a ter taxas de crescimento pífias.
Taxas de juros reais acima de 20% ao ano, como têm sido correntes no Brasil desde 1992, causam quebradeira no setor privado, aumentam o déficit orçamentário por conta dos juros sobre a dívida pública e resultam em baixo crescimento.
Esse é o preço de um programa de estabilização com um viés "yuppie" como o que foi adotado, que favorece os ganhos financeiros em detrimento do crescimento da produção e do emprego.

Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.

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