São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Filho de ex-profissional recebe o nome de Túlio

MÁRIO MAGALHÃES
DO ENVIADO A ÁGUAS BELAS (PE)

O músico Marcelo Santos, 40, não precisou pensar duas vezes para escolher o nome de seu segundo filho, nascido há 11 meses.
Fã do Botafogo, ele decidira que, se fosse homem, o bebê se chamaria Túlio, o então camisa 7 do clube carioca, hoje no Corinthians.
Ao contrário de quase todos os fulniôs, Marcelo não jogou futebol só como diversão. Ele e mais quatro índios, nas últimas duas décadas, saíram da aldeia para defender times profissionais.
Quatro voltaram quando ficaram velhos ou desempregados. De um, não se sabe o paradeiro.
Em 1977, Marcelo, atacante, tornou-se atração no Ferroviário de Recife, onde o chamavam de "Índio". "Tinha gente que dizia que o índios só sabem pescar e caçar, mas eu impressionei."
Em 12 anos de profissionalismo, ele jogou por clubes alagoanos e pernambucanos. "Não enriqueci, mas fiz um pezinho-de-meia."
"Ao chegar a Recife ia muito a boates, gastava dinheiro, essas coisas", diz. Para seu pai, o cacique João, "Marcelo só não foi mais longe por causa da bebida."
A cachaça é um prazer contumaz dos fulniôs. Até os jogadores bebem, pouco antes e pouco depois das partidas. Torcedores levam garrafas para os jogos.
O maior obstáculo na carreira de Marcelo foi a saudade. Quando chegava setembro, início do ritual do Ouricuri, ele queria voltar.
"Eu ficava arrepiado, religião é fundamental. Sempre achava um jeito de falar com um cartola para ser liberado por uns dias."
"Fora de casa", ele teve um filho, hoje com 16 anos, que há três mora com ele na aldeia. Túlio também não é fruto de casamento. "Índio não é muito de casar."
Marcelo quase foi jogar no Espinho, clube português, mas "medo de atravessar o mar de avião."
Com três irmãos e um filho, ele integra o Xumaiá (vento, em iatê), banda que anima bailes da região tocando pagode e ritmos baianos.
Os jogadores fulniôs falam de Marcelo para mostrar que os índios podem vencer no futebol. "É o meu sonho", diz o atacante Petrônio, 22.
(MM)

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