São Paulo, domingo, 9 de março de 1997 |
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Bernstein critica a mediocridade
FERNANDA GODOY
Bernstein atribui ao megaempresário australiano Rupert Murdoch um papel fundamental na difusão do jornalismo sensacionalista, ao estilo de seus tablóides "The New York Post" e "The Sun" (de Londres). "Os padrões desse jornalismo -a valorização do bizarro, do sensacional, das celebridades- passaram a dominar a nossa mídia. O que antes era uma subcultura passou a ser cultura dominante", disse. Bernstein ficou mundialmente conhecido pelas reportagens, feitas em dupla com Bob Woodward para o jornal "The Washington Post", sobre o escândalo de Watergate. O escândalo levou à renúncia, em 1974, do então presidente dos EUA, Richard Nixon. "O que nós fizemos no caso Watergate foi obter a melhor versão possível da verdade. Isso inclui o contexto dos acontecimentos. Acho que o contexto é o elemento mais importante da verdade. Muito do jornalismo de hoje é feito sem explicar o contexto dos fatos", disse o jornalista, autor dos livros "Todos os Homens do Presidente" e "Os Últimos Dias", sobre Watergate, e "Sua Santidade", biografia do papa João Paulo 2º. Bernstein avalia que, dos anos 70 para cá, houve uma queda nos padrões da imprensa norte-americana e mundial. "A reportagem de alto nível -mesmo a de bom nível- sempre foi exceção. Mas nunca tínhamos visto nada como isso." Bernstein acha que o jornalismo investigativo foi particularmente atingido porque é caro, já que exige que os profissionais se dediquem, às vezes por vários meses, a um mesmo assunto. "Mas não acredito que o jornalismo investigativo seja uma pseudociência isolada do restante do jornalismo. Uma boa reportagem de esportes é, em essência, a mesma coisa: a melhor versão da verdade que se possa obter", disse. Bernstein disse odiar uma certa mística criada em torno do jornalismo investigativo. "A idéia de que nós vamos sair à rua para caçar bandidos é uma perversão da nossa função", disse. Quatro exceções Nos EUA, Bernstein faz exceção para apenas quatro jornais que, a seu ver, mantêm uma tradição de jornalismo de alto nível: "The New York Times", "Wall Street Journal", "The Washington Post" e "Los Angeles Times". "Esses quatro jornais têm um tal papel na disseminação de notícias e de informação contextualizada que, sem eles, estaríamos perdidos", disse. Para Bernstein, o argumento de que o noticiário sensacionalista ganha destaque nos jornais porque é o que mais agrada aos leitores implica uma "terrível abdicação de responsabilidades" por parte dos jornalistas. "Nós temos que dar aos leitores o que nós sabemos que é notícia, não o que eles querem. Isso não quer dizer que os jornais, as revistas e a TV não devam ser divertidos. O problema é o que equilíbrio entre sensacionalismo e jornalismo sério está pendendo para o lado errado", disse Bernstein. Ele não acredita que o surgimento de outros meios de transmissão de informação, como a rede de computadores Internet, vá decretar a morte dos jornais. "Há muito tempo que a maioria das pessoas se informa pela televisão", disse. "Acho que sempre vai haver espaço para os jornais e que a maior parte do trabalho sério de reportagem continuará a ser feito pelos jornais." Texto Anterior: A cilada da uniformidade Próximo Texto: Greve deixa cidades sem jornal Índice |
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