São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Greve deixa cidades sem jornal

Falta de periódicos locais não incomodou população

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A mais longa greve da história do jornalismo dos EUA terminou na primeira semana de março em Detroit, Michigan, Meio-Oeste do país, 19 meses após o seu início.
A circulação paga conjunta dos dois jornais da cidade caiu de 900 mil para 620 mil cópias, nos dias de semana, e de 1,1 milhão para 850 mil, aos domingos. Os prejuízos dos diários estão sendo calculados na casa dos US$ 150 milhões. Um deles, o "Detroit News", pode fechar.
Detroit ficou sem seus diários locais durante duas semanas. Mas, da mesma forma como em Pittsburgh, Pensilvânia, Costa Leste, que permaneceu dois meses, em 1992, sem jornais da cidade por causa de outra greve, os leitores não parecem ter se incomodado muito. O professor Jeffrey Mondak, da Universidade de Pittsburgh, entrevistou assinantes dos jornais da cidade e constatou que a seção de que os leitores mais sentiram falta foi a de mortes. O setor da economia local que mais se ressentiu da greve foi o das floriculturas, que perderam dezenas de milhares de dólares em coroas para funerais que deixaram de vender.
Mondak se fixou, em especial, no efeito que a ausência de jornais em Pittsburgh poderia ter tido sobre o comportamento eleitoral da população (em novembro de 1992, houve eleições para a Presidência e para o Congresso). Ele constatou que o efeito foi quase nulo e que os cidadãos de Pittsburgh estavam tão bem (ou mal) informados a respeito da campanha quanto os de cidades comparáveis no Estado.
Tanto em Detroit quanto em Pittsburgh, a ausência de jornais diários fortaleceu publicações de bairros, estimulou a criação de semanários especializados em artes e espetáculos e aumentou a audiência dos telejornais da região.
Nos dois casos, os grevistas lançaram o seu próprio jornal. O de Detroit promete continuar sua circulação aos domingos, devido ao sucesso que diz ter alcançado ao longo desses 19 meses. O de Pittsburgh fechou com o fim da greve.
O professor Robert Picard, do departamento de comunicação da Universidade Estadual da Califórnia, acha que a greve de Detroit, além de ter sido a mais longa, foi também a última da história do jornalismo norte-americano. Segundo ele, todas as partes envolvidas se deram conta de que o jornal que não circula pode se demonstrar supérfluo, e isso não é bom para ninguém que dependa dele.
(CELS)

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