São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Um erro da CPI

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Um grupo de repórteres passou a semana passada sonhando com o "disquete da Cetip".
Tratava-se de um disquete de computador que a CPI dos Precatórios estava para receber da Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos (Cetip).
O conteúdo: a lista com os nomes de todas as instituições financeiras que compraram de forma definitiva os títulos investigados pelos senadores.
Foram dias de angústia, até que o tal disquete chegou. Mas os senadores não entregavam.
Na quinta-feira à tarde, no final do dia, o relator da CPI, Roberto Requião (PMDB-PR), estava em seu gabinete rodeado de jornalistas. Passava um pouco das 17h.
Entrou na sala um assessor. "Aqui está", disse, dando a Requião uma planilha com um resumo do disquete. Os olhos dos jornalistas brilharam.
"Isto aqui não tem muita importância. É só uma estatística. Além do mais, não podemos correr o risco de ficar divulgando os nomes dessas instituições, como se todas tivessem alguma participação no escândalo", disse Requião aos jornalistas.
Não adiantou. Os repórteres insistiram. Requião deu cópia para todos. Os jornais de sexta-feira publicaram então a lista da CPI com os tais tomadores finais dos títulos.
Foi um erro grave.
A Cetip avisou na sexta-feira que os técnicos da CPI haviam misturado os bancos que foram os tomadores finais dos títulos com outros que simplesmente tiveram, em algum momento, esse papéis em suas carteiras.
O Banco Itaú, por exemplo, que aparecia como tomador final de R$ 58,8 milhões, não tinha um centavo desses títulos. Mas o estrago está feito.
A lição dessa história é que a CPI está caminhando por um terreno muito intrincado. As chances de cometer algum equívoco são enormes.
Um erro mais grave, ou uma sequência de erros, pode comprometer todo o excelente trabalho até aqui realizado pelos senadores. Para felicidade de muitos "laranjas".

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