São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Brasil e França, juntos novamente

PHILIPPE LECOURTIER

Há menos de um ano, o presidente Fernando Henrique Cardoso preparava-se para efetuar uma visita de Estado à França que podemos hoje qualificar de histórica, tanto marcou o novo impulso ocorrido, desde então, de maneira extraordinária, nas relações franco-brasileiras.
Era frequente, de fato, ouvirmos, lermos e vermos reprovado o retraimento da França em relação ao Brasil, o enfraquecimento de um laço forte e íntimo com o grande amigo sul-americano.
A observação, apesar de exagerada, já que não levava em consideração o prosseguimento de nossos programas de cooperação científica, da formação universitária na França de numerosos brasileiros, da presença de inúmeras empresas francesas, traduzia, no entanto, um sentimento real, uma decepção por parte do Brasil.
Era também uma espécie de pedido indireto à França para que voltasse, para que se juntasse a essa grande aventura brasileira da democracia recuperada, do desenvolvimento retomado e da volta ao cenário internacional de um país que só pode nele ocupar um dos primeiríssimos lugares.
Quanto caminho percorrido em um ano! As empresas francesas, confiantes no futuro do Brasil e em sua estabilidade econômica, disseram presente. Electricité de France, Paribas e BNP, Société Générale, Renault, Publicis, Lafarge, SCOR, para citar apenas as maiores, reuniram-se àquelas que, como Accor, Rhône-Poulenc, Saint Gobain, Carrefour, Air Liquide, Alcatel e tantas outras, jamais duvidaram.
De acordo com o próprio Banco Central, em 1996 a França classificou-se em segundo lugar entre os investidores no Brasil. Nossas relações políticas são mais densas do que nunca, no âmbito legal renovado pelo acordo de cooperação assinado em Paris em maio de 1996.
Nós, franceses, assim como vocês, brasileiros, redescobrimos e decidimos valorizar a vizinhança única que nos legou a história, tanto de um lado quanto do outro do Oiapoque, e que dá à França, com a Guiana, sua mais extensa fronteira terrestre. O visto de curta duração entre nossos países foi suprimido, para reforçar ainda mais as relações humanas que unem nossos povos e os impulsionam um em direção ao outro.
A algumas horas da chegada ao Brasil do sr. Jacques Chirac, presidente da República Francesa, esse impulso confirma-se. Acompanhado de uma grande delegação de homens de negócios representando o florão da indústria francesa, Chirac vai descobrir um Brasil que, sob o bastão e com a visão do presidente Fernando Henrique Cardoso, empreende, de maneira resoluta, o caminho da modernização, do desenvolvimento e da ação internacional, enfim, de um Brasil vitorioso.
A ambição da França, no que se refere à sua relação com o Brasil, é grande. Ela vem acompanhando com confiança os esforços que o Brasil e seus vizinhos do Mercosul vêm empreendendo para fortalecer a integração regional.
Dotado de uma coesão cultural e de uma identidade política que o aproximam naturalmente da Europa, o Mercosul pode contar com a União Européia, de longe o primeiro parceiro comercial do Brasil, e que amanhã, com seus 340 milhões de habitantes, sua moeda única e uma convergência sempre mais forte, constituirá o primeiro conjunto político e econômico do planeta. Esse é o sentido do acordo União Européia-Mercosul, assinado em dezembro de 1995, entre vocês 4 e nós 15.
Além do mais, a França vê no Mercosul uma peça essencial de uma nova ordem internacional multipolarizada, que só pode ser construída no respeito a cada um e na justiça para todos.
Nessa conivência que une o Brasil e a França, a mediocridade não tem lugar, e a visita de Estado do sr. Chirac a Brasília, Rio e São Paulo será o testemunho também da ambição comum para nossos países: contatos políticos prioritários, reforço da presença econômica, ações conjuntas diante dos desafios de hoje, volta às fontes no campo dos intercâmbios universitários, melhor divulgação no Brasil das produções de TV e cinema francesas, cooperação espacial e ensino das línguas respectivas.
Na nossa relação bilateral não existe, de fato, qualquer setor em que os laços não sejam pertinentes. Não há questão mundial em que nossa amizade não seja necessária.
Antes de nos enfrentarmos -pacificamente-, daqui a pouco mais de um ano, nos campos de futebol da Copa de 1998, que meu país irá abrigar, celebremos novamente nossa amizade, antiga e nova ao mesmo tempo, nascida de nossa admiração mútua, mas também da convicção de que o Brasil e a França, juntos, podem muito, por eles mesmos e pelo resto do mundo.

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