São Paulo, domingo, 23 de março de 1997 |
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Brinquedoteca ajuda tratamento e diagnóstico
DA REPORTAGEM LOCAL A. não é a primeira bailarina da brinquedoteca do HC. Segundo Ligia Helena Pagan, responsável pelo local, uma das mais inesquecíveis foi J., que não frequenta mais o local."Ela e a mãe não se entendiam. J. apresentava distúrbios de comportamento. Falava palavrões, era desobediente e agressiva." Segundo ela, em uma das sessões, J. encontrou a fantasia de bailarina e resolveu usar. Ela se pintou e pediu para fazer um "espetáculo". A mãe foi chamada para assistir e assustou a criança. "A mãe ficou tão espantada de ver a garota brincando, que sua primeira reação foi um 'É você?'. Pedimos para a mãe se sentar e assistir ao espetáculo. A partir daí, as duas começaram a se dar bem." Doação Ligia diz que a brinquedoteca foi totalmente montada com doações. São brinquedos, livros, novelos de lã, fitas, tapetes e até almofadas colocadas à disposição das crianças. A brinquedoteca está aberta às crianças em tratamento no HC. Não só para as internas, mas para as que frequentam grupos de terapia ou recebem medicação. "Há uma escala de horários. A frequência depende do caso. Há crianças que passam por aqui até duas ou três vezes por semana." Segundo ela, a brinquedoteca tem objetivos terapêuticos. "Aqui a criança pode brincar do que quiser. De acordo com suas brincadeiras, percebemos comportamentos difíceis de ser detectados pelos médicos durante consulta." Os internos da psiquiatria também são levados à brinquedoteca e "se transformam", segundo a pedagoga. "Longe de médicos, às vezes, é mais fácil notar um avanço." Ligia diz que um dos casos que mais a espantou foi o de um garoto autista. "Ele vinha, ficava em seu cantinho, quieto. Aos poucos foi se soltando, até um dia em que escreveu na lousa. Ele sabia ler!" O autista sofre deficiência de grau variado. Pode se tornar uma pessoa completamente ausente do mundo ou uma pessoa que execute tarefas como ler e escrever. Salas Segundo Ligia, as brinquedotecas são, em geral, lugares grandes. A do HC tem só uma sala. O chão foi pintado com cores diferentes, onde são postos objetos diferentes. Um dos cantos, o de "belas artes" reúne material como papel, tinta e lápis coloridos. Outro canto agrupa várias fantasias, material para maquiagem e um enorme espelho. De lá, apareceram as dançarinas A. e J. Costumam surgir piratas ou palhaços. Um terceiro canto tem almofadas e é forrado com um tapete. É mais usado pelos adolescentes e para conversas ou leitura. Finalmente, o quarto canto só tem brinquedo e seu objetivo é fazer a criança brincar. Segundo a pedagoga, as mães nem sempre são bem-vindas. "Às vezes pedimos aos pais que deixem as crianças só com a equipe. É para observá-las mais livremente. Em outras vezes, pedimos a participação dos pais." Texto Anterior: Atendimento não é 'fast-food' Próximo Texto: Brincadeira é tratamento Índice |
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