São Paulo, domingo, 23 de março de 1997 |
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O fóssil espacial
VANESSA DE SÁ
Nesse dia, o Hale-Bopp terá a sua proximidade máxima em relação ao Sol, distância que os astrônomos chamam de periélio. É nesse ponto, cerca de 137 milhões de km da estrela, que os cientistas esperam que ele atinja o seu brilho máximo. Cometas podem ser comparados a um fogo de artifício, cujos componentes são acionados pelo fogo. Fenômeno semelhante acontece com esses astros, que não passam de uma bola de gelo "sujo" até se aproximarem do Sol. O calor solar faz com que os "combustíveis" do núcleo cometário -gases congelados e poeira cósmica- sejam "ativados", isto é, sejam descongelados, evaporados e expelidos do núcleo. São essas partículas que vão formar a cauda e que, refletidas pela luz solar, vão dar o brilho aos cometas. A ativação dos componentes do núcleo cometário começa antes do periélio, mas é ali que atingem o grau máximo. Quanto maior o núcleo, maior a quantidade de "combustível" para "queimar". O núcleo do Hale-Bopp, descoberto independentemente pelos norte-americanos Alan Hale e Thomas Bopp em 1995 (leia à pág. 5-5), tem cerca de 40 km de diâmetro, aproximadamente duas vezes o diâmetro da maioria dos cometas. Segundo Amâncio Friaça, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP (IAG), o cometa tem também inúmeros gêiseres em sua superfície -os pontos ativos-, o que também contribuiria para o maior brilho final. "A expectativa é de que seja mais brilhante do que o Halley, compensando o fato de passar mais distante da Terra do que o Halley passou", diz Amauri Almeida, do mesmo instituto. Ceticismo Muitos cientistas, entretanto, preferem aguardar. É possível que ao atingir o periélio, boa parte do "combustível" seja consumida e que o brilho decaia. Se as previsões mais pessimistas se confirmarem, os brasileiros poderão ter dificuldade em vê-lo (leia texto abaixo), ao contrário do que está acontecendo com os habitantes do Hemisfério Norte, onde o Hale-Bopp já é visto a olho nu. Pessimista ou não, a comunidade astronômica é unânime em dizer que a passagem de um cometa de tal porte pela Terra é uma oportunidade única para o estudo de elementos presentes no Sistema Solar 4,5 bilhões de anos atrás. Os cometas são uma das heranças deixadas pela nuvem de gás que o formou. São uma espécie de registro arqueológico do espaço. Graças a mudanças gravitacionais, são deslocados dos confins do Sistema Solar para a parte mais interna dela, para perto do Sol. Almeida diz que os cometas são uma espécie de "sonda interplanetária", capaz de trazer informações originais e fossilizadas da periferia do Sistema Solar. "Imagine o custo de enviar uma sonda a essas regiões longínquas e manter equipes de cientistas na Terra para traduzir os sinais enviados pela sonda. Os cometas trazem essas informações à Terra quase que gratuitamente. São fundamentais para entender como se originou e evoluiu o Sistema Solar", diz Almeida. Texto Anterior: Um grito contra economistas e políticos Próximo Texto: Como e quando ver o astro no Brasil Índice |
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