São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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Fidel tenta sufocar os restaurantes privados

El País
de Madri

MAURICIO VICENT
EM HAVANA

Os restaurantes privados cubanos vivem a fase mais negra desde sua legalização, no verão de 1995. Em menos de um mês, dezenas de "paladares" (como são conhecidos em Cuba) foram fechados pelo governo ou fecharam por iniciativa própria, devido ao recrudescimento da repressão oficial.
Ela se manifesta pelo aumento da fiscalização e pelo endurecimento das multas e sanções -que já chegaram a incluir o confisco de geladeiras e eletrodomésticos e a retirada temporária ou definitiva de licenças de trabalho.
Segundo os proprietários de "paladares", trata-se da maior ofensiva já lançada contra esse tipo de pequena empresa familiar, e seu objetivo é estrangular ainda mais a iniciativa privada. Até agora, "a última ceia" era apenas um eufemismo empregado pelos proprietários e clientes de "paladares" para referir-se à proibição de os restaurantes terem mais de 12 cadeiras para fregueses. Hoje, seu sentido começa a ser literal.
"O governo dizia que, ao limitar o número de fregueses a 12 'apóstolos', pretendia controlar nossos lucros e impedir que ficássemos ricos", diz Joaquim, dono de um dos restaurantes recém-fechados. "Mas ficou claro que o que ele realmente pretendia era nos estrangular até fecharmos."
O "paladar" de Joaquim fica em El Vedado, o bairro mais central do município de Plaza, um dos 15 que integram a zona de Havana. Plaza é o município que tem o maior número de restaurantes privados do país: 106, numa área de 11,8 quilômetros quadrados, habitada por 170 mil pessoas.
Em março do ano passado, havia 192 "paladares" em Plaza. No mesmo mês havia cerca de 2.000, ao todo, em Cuba, dos quais hoje continuam abertos cerca de 1.500.
A queda no número de restaurantes privados nesse período se deve a vários fatores. Em primeiro lugar, os impostos, que vêm subindo cada vez mais.
Hoje o dono de um "paladar" de Havana que cobra em dólares tem que pagar impostos mensais de US$ 375 e 1.000 pesos cubanos, além de US$ 75 e 200 pesos por cada "ajudante familiar" -como o trabalho assalariado é proibido, é preciso chamá-lo de outra coisa. Considerando que o salário mensal de um médico é 400 pesos e que 20 pesos são trocados por um dólar, é fácil entender a razão do fechamento de alguns "paladares".
Além disso tudo, é proibido, por exemplo, vender carne de vaca ou mariscos, contratar um cozinheiro e vender peixe comprado de pescadores particulares.
"Fiscais me pegaram com dois ou três clientes a mais. Me multaram em 1.500 pesos e me obrigaram a fechar temporariamente", lembra Joaquim. Mas ele diz que seu caso não é o pior. O poder popular obrigou a pizzaria El Farallón a ficar fechada por um mês.

Tradução de Clara Allain

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