São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997
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Investidor cria 'jogador-caranguejo'

MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

Criado em 1991, o Sport Club Corinthians Alagoano começou por baixo, como impõe a legislação esportiva. De cara, venceu a segunda divisão do Campeonato Estadual, conquista reeditada em 1992.
Nas duas vezes, abdicou do direito, sonho de qualquer clube em qualquer parte do mundo, de ascender à turma dos grandes.
O negócio do homônimo do mais popular time paulista não é propriamente o esporte, mas comprar e vender jogadores, numa empreitada muito lucrativa.
O presidente do Corinthians Alagoano, o economista João Feijó, 40, compara: "O nordestino pega um pneu de caminhão velho e joga nele uma biquinha com água e um caranguejo magro, que vai ser engordado e vendido depois. É esse o trabalho que executo".
"Eles estão sendo colocados dentro do pneu, com coco ralado, comida", diz Feijó. "Depois que engordarem, os venderei bem gordinhos. Essa é a minha realização."
Por isso, não quis inscrever seu clube na primeira divisão, preferindo continuar entre os nanicos -na elite, os custos seriam maiores, sem reforçar a atividade-fim, o comércio de jogadores.
Quando entrou no mercado futebolístico, Feijó era conhecido em Alagoas: durante meses, foi secretário estadual da Agricultura do governo Fernando Collor.
Em 1991, ele comprou um clube amador e mudou seu nome para Corinthians, imitando também o escudo. A sede, duas salas à entrada de um hotel, em Maceió (AL), é emblemática: a equipe é só um lugar de passagem.
Ter um clube era exigência: a legislação impede pessoa física de possuir passe (o direito de transferência do atleta). O Corinthians não nasceu para competir, mas para registrar jogadores. Legalmente, Feijó é só presidente. Na prática, também o dono.
Os primeiros times produziram campeões que hoje jogam no Japão, na Rússia, no México, na Suíça, em Portugal e no Brasil.
Entre eles, o zagueiro Narciso, vendido ao Santos por R$ 90 mil, uma ninharia para quem viria a integrar a seleção brasileira.
Bom negócio
Para Feijó, foi um acerto. "Não existe na minha mente essa coisa de mau negócio. Negócio bom é vender um garoto de acordo com o que você acha interessante."
Ele não pode reclamar da vida. Contabiliza 200 contratados nos últimos seis anos. Hoje são 30 profissionais e 70 amadores.
Em 96, vendeu o passe de Leônidas ao Spartak (Rússia) por R$ 900 mil. Ele havia sido comprado ao Goiânia por R$ 50 mil.
Com o Mogi Mirim, terceiro colocado do Grupo 2 do Paulista, o Corinthians é sócio (50% cada) em cinco passes. O clube cedeu três jogadores ao Ituano e seis ao Taubaté, também do interior paulista.
A legislação ajuda o investidor alagoano, que odeia ser chamado de "empresário", a faturar ainda mais: clubes, por serem de utilidade pública, sem fins lucrativos, não pagam Imposto de Renda sobre lucro, nem contribuição de empresa à Previdência.

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