São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-diretor da Emurb lucrou com títulos

ELVIRA LOBATO

ELVIRA LOBATO; MILTON GAMEZ
DA SUCURSAL DO RIO

Responsável por obras da Prefeitura de SP comprou papéis suspeitos de terem 'vício na origem'

MILTON GAMEZ
O banqueiro José Carlos de Oliveira, presidente do Gulfinvest, fez negócios lucrativos com títulos da Prefeitura de São Paulo na mesma época em que era diretor financeiro da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), companhia que cuida das grandes obras da cidade.
A compra dos precatórios (títulos destinados ao pagamento de dívidas judiciais) paulistanos pelo Gulfinvest foi feita em leilões promovidos pela Secretaria de Finanças em 93, quando o titular era o atual prefeito Celso Pitta.
As vendas desses papéis municipais -que somaram US$ 350 milhões naquele ano- tiveram vícios na origem, segundo o Bradesco. Porém, os leilões de 93 ainda não foram incluídos nas investigações das fraudes com papéis municipais e estaduais pela CPI dos Precatórios, no Senado Federal.
Documentos obtidos pela Folha mostram que, no leilão de precatórios promovido pela Prefeitura de São Paulo no dia 31 de março de 93, quando José Carlos de Oliveira era diretor financeiro da Emurb, o Gulfinvest comprou -aconselhado por ele mesmo- US$ 16,3 milhões de papéis de um ano de prazo, com um deságio médio de 4,41%. Pagou, portanto, US$ 15,6 milhões por 16 mil letras financeiras da prefeitura.
No mesmo leilão, o Bamerindus comprou 12,5 mil letras por US$ 12,3 milhões, com um deságio de 3,51%. Nesse leilão, os deságios chegaram a variar 56% -oscilação que, para o vice-presidente do Bradesco, Ageo Silva, mostra que houve vício no leilão.
A diferença de preços entre as propostas do Bamerindus (as menos lucrativas) e as do Gulfinvest (as mais vantajosas) fez com que este último tivesse um lucro extra de US$ 146,8 mil.
O Gulfinvest também participou de outros três leilões de papéis da Prefeitura de São Paulo ao longo daquele ano: em junho, em agosto e em setembro. No leilão de setembro, o banco emplacou 13 propostas de compras de papéis de quatro anos de prazo, obtendo deságios de 24,04% a 29,47%.
Oliveira teve três passagens pela Emurb em 93 e 94, época em que Celso Pitta fazia parte do conselho fiscal da empresa. Ele foi membro do conselho de administração de 8 de janeiro a 27 de abril, diretor financeiro de 31 de março a 31 de julho e novamente conselheiro, de 17 de novembro a 14 de julho de 94.
Nesse último ano, o banqueiro presidiu, ainda, a Andima, associação de classe que reúne bancos, distribuidoras e corretoras. Ficou na presidência da Andima de março de 94 a março de 96. Ageo Silva, do Bradesco, foi vice-presidente da associação na mesma gestão.
Outro lado
Apesar de trabalhar na administração direta do município, o banqueiro não se desligou do Gulfinvest. Continuou recebendo vencimentos do banco, "pois o salário na Emurb era muito baixo", segundo admitiu ontem à tarde, por telefone, do interior da França, onde está em viagem de férias.
"Não tenho nada a ver com precatórios. Embora não tenha me licenciado do Gulfinvest, por questões salariais, me afastei da administração do banco e me dediquei por completo à Emurb", afirmou. Oliveira nega que, como diretor financeiro da Emurb, tenha tido acesso a informações privilegiadas sobre os leilões -cujos recursos também serviram para pagar as grandes empreiteiras, agora sob investigação da CPI.

Texto Anterior: Pitta virou 'laranja' de Maluf, diz pianista
Próximo Texto: Banco queria ficar conhecido
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.