São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 1997
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O Fed e a política monetária

ANTONIO DELFIM NETTO

Na sua mensagem anual sobre a política monetária feita no Senado dos EUA na última semana de fevereiro, o presidente do Federal Reserve Board, sr. Alan Greenspan, disse coisas do maior interesse. Colocou um pouco de sal na fúria monetarista que exige do Fed o controle da inflação até a sua completa anulação.
Diante dos números apresentados pelo relatório Boskin, que estima um viés para cima do índice do custo de vida superior a 1,0%, e de algumas críticas sobre o papel da política monetária contidas no 'Economic Report of the President' de fevereiro de 1996, o professor Greenspan decidiu deixar claro o que pensa e como conduz a ação do Fed.
Ao definir o objetivo da política monetária, disse que ela se destina a permitir a maior taxa de crescimento do Produto Interno Bruto compatível com a não aceleração da taxa de inflação. Ninguém sabe direito qual é essa taxa de crescimento do PIB. Certamente ela não é uma constante da natureza, mas depende da estrutura e das instituições.
Allan Greenspan deixou claro que ele não acredita que tenha havido uma mudança nem na estrutura nem nas instituições, de forma que a taxa máxima de crescimento do PIB deve ser aproximada pela taxa de crescimento de longo prazo da economia.
A observação é importante, porque significa que o Fed não está disposto a "acelerar" o crescimento de curto prazo por meio de eventuais estímulos monetários. Quanto ao longo prazo, nem se discute, porque a experiência mostra que esses estímulos se dissolvem numa aceleração da inflação, sem modificar a taxa de crescimento do PIB.
O professor Greenspan mostrou que o Fed está interessado numa espécie de equilíbrio geral da economia e que presta atenção particularmente a três mercados: o de bens e serviços, o de trabalho e o de ativos financeiros, qualquer um dos quais pode iniciar um desequilíbrio.
Com relação ao mercado de bens e serviços há um acompanhamento cuidadoso da oferta e procura globais para detectar qualquer "excesso" de demanda que poderia provocar uma aceleração inflacionária direta ou, eventualmente, uma pressão sobre o balanço em conta corrente. Até aqui não se detecta qualquer problema mais sério.
O mercado de trabalho é escrutinizado para tentar antecipar variações no custo do trabalho por unidade de produto, que poderiam resultar de um "excesso" de demanda da mão-de-obra.
A combinação de uma pressão por aumento de salário real acima do crescimento da produtividade, juntamente com a dificuldade de antecipar um aumento da demanda global sancionada pela política monetária, poderia dar lugar a um movimento inflacionário cuja correção no futuro exigiria custos elevados em termos de produto e de emprego.
O índice de custo do emprego está, portanto, sob vigilância e seu comportamento pode dar lugar a um aumento da taxa de juros.
O mercado de ativos financeiros tem preocupado o presidente do Fed, que já disse que suspeita de uma "exuberância irracional" nas Bolsas. Mas aqui a ação de Greenspan parece ser persuasiva.
O problema é que se tiver de aumentar a taxa de juros devido à pressão do mercado de trabalho, os mercados financeiros poderão ser conturbados.

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