São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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Zannetti diz que dinheiro veio do tráfico

HUMBERTO SACCOMANDI
LUCAS FIGUEIREDO

HUMBERTO SACCOMANDI; LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADOS ESPECIAIS A LUGANO (SUÍÇA)

Ítalo-suíço que fez depósitos em contas de PC admite ter lavado recursos, mas nega saber nomes de beneficiados

O ítalo-suíço Angelo Zannetti, que fez depósitos em contas do empresário Paulo César Farias, segundo a Justiça italiana, confirmou ontem que o dinheiro provinha do narcotráfico.
Zannetti falou em entrevista exclusiva à Folha, concedida no escritório de seu advogado, na cidade suíça de Lugano, próxima à fronteira com a Itália.
"Eu 'lavei' dinheiro. Sabia que esse dinheiro provinha do narcotráfico", afirmou Zannetti.
Ele disse que desconhecia o nome dos beneficiados pelos depósi tos. "Eu recebia apenas um pedaço de papel com o nome de um banco e o número de uma conta."
Quem lhe passava os dados era o mafioso italiano Antonio Scambia, um dos principais organizadores do maior esquema de narcotráfico já descoberto entre a América do Sul e a Europa.
Inquirido sobre se não teve curiosidade de conhecer os destinatários do dinheiro, Zannetti disse que não. "Nunca ouvi um único nome", disse. "Nesse tipo de negócio, não se perguntam os nomes", complementou o seu advogado, Filippo Ferrari.
Zannetti confirmou ter feito depósito em contas nos bancos americanos Citibank e Chase Manhattan, em agências de Nova York.
Durante as investigações do esquema PC, a Polícia Federal brasileira identificou contas do empresário nesses bancos.
Zannetti confirmou também ter feito depósitos em bancos de Roterdã, Paris e Miami, onde PC também teria contas.
Sobre o depósito numa financeira de São Paulo, revelado pela Folha, o caixa do narcotráfico afirmou não se lembrar detalhes. "Pode ser que eu tenha feito uma transferência para São Paulo, mas não me lembro de detalhes."
Ele afirma que fez cerca de cem depósitos de dinheiro proveniente das operações de narcotráfico.
"O valor variava, mas era sempre de algumas centenas de milhares de dólares", disse.
Zannetti foi preso pela polícia italiana logo após a apreensão de 5,5 toneladas de cocaína em Turim, em 1994.
Depois de cerca de dois meses de prisão preventiva, foi libertado. Ele teria conseguido privilégios por ter colaborado com a polícia, antes e depois da apreensão do carregamento de droga.
Ele ficou então 17 meses na cadeia, até ser libertado em 1996, quando não podia ser mais prolongada sua prisão preventiva.
Agora, aguarda processo na Suíça. Pode ser condenado a cerca de 15 anos de prisão.
Ele também é réu no processo em andamento em Turim, na Itália. "As acusações contra ele são graves. Ele reconheceu o que fez desde o começo", disse o advogado Ferrari.
Zannetti nega, porém, ter participado da organização e operação da rede de tráfico. Disse que só soube da origem do dinheiro transferido depois de ter entrado no esquema.
Isso contradiz os depoimentos do mafioso Scambia, que afirma que Zannetti conhecia toda a operação, desde o começo, e que participou da definição de detalhes do esquema.
O operador financeiro do narcotráfico confirma que esteve duas vezes no Brasil, bem antes dos carregamentos de droga.
"Fui basicamente por causa das mulheres. Numa das visitas, aproveitei visitar umas minas e comprar esmeraldas. Acabei enganado pelos vendedores", disse.
Chelotti
O diretor-geral da Polícia Federal, Vicente Chelotti, criticou em Recife (PE) a burocracia brasileira que, segundo ele, atrasa o envio, da Itália para o Brasil, de provas do envolvimento de PC com a Máfia.
Chelotti disse que, sem as provas, a polícia não vai iniciar os interrogatórios no Brasil.

Colaborou a Agência Folha

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