São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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Decretada intervenção no Bamerindus

VIVALDO DE SOUSA
SÔNIA MOSSRI

VIVALDO DE SOUSA; SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Governo injeta R$ 5,7 bi e banco estrangeiro entra com US$ 1 bi; bens de controladores estão indisponíveis

O Banco Central decretou ontem intervenção no Bamerindus e transferiu o controle acionário da instituição para um dos maiores bancos do mundo, o Hong Kong and Shangai Bank.
Para tornar viável a operação, o governo vai utilizar cerca de R$ 5,7 bilhões em dinheiro público.
Em crise desde 95, pelo menos, o Bamerindus abrirá normalmente na próxima segunda-feira, com o nome de HSBC Bamerindus.
O novo controlador vai capitalizar a instituição em US$ 1 bilhão, além de pagar US$ 400 milhões pela marca Bamerindus. Esse dinheiro será usado para honrar compromissos que não serão repassados ao HSBC.
O dinheiro do BC, cujo volume ainda não foi divulgado oficialmente, virá do Proer, o programa de incentivo às fusões bancárias.
Conforme a Folha noticiou anteontem, o BC adotou uma operação em moldes semelhantes à feita no Nacional, na estréia do Proer, em novembro de 1995: intervenção apenas para realizar a transferência de controle acionário durante um fim-de-semana.
Nada deve mudar na vida dos correntistas do banco. Eles poderão movimentar normalmente suas contas. Talões de cheques e cartões magnéticos serão substituídos gradualmente.
Bens indisponíveis
A solução encontrada pela diretoria do BC envolve ainda a compra da carteira imobiliária do Bamerindus pela CEF. A diretoria do Bamerindus avalia que essa carteira vale R$ 2,3 bilhões, contra R$ 1,7 bilhão estimado pela CEF.
Com a intervenção, estão indisponíveis desde ontem os bens dos 65 controladores e administradores nos últimos 12 meses, inclusive o senador José Eduardo Andrade Vieira (PTB-PR) e Maurício Schulman, atual presidente da Febraban, a federação dos bancos.
A intervenção inclui ainda a Fundação Bamerindus de Assistência Social, a Bamerindus Participações e Empreendimentos e a Bastec Tecnologia e Serviços.
A seguradora Bamerindus, tida como a empresa mais sólida do grupo, não sofreu intervenção, mas seu controle também passa para o Hong Kong Shangai Bank.
Desde abril do ano passado, Vieira, um dos financiadores da campanha de FHC à presidência, vinha discutindo com o governo uma solução para o Bamerindus.
Ontem, após o anúncio da intervenção, iniciado às 18h, Andrade Vieira se reuniu com o presidente no Palácio do Planalto por cerca de uma hora. Assessores disseram que o senador estava abatido.
O porta-voz Sergio Amaral disse que a decisão de intervir no banco não seguiu conveniências políticas. "O presidente foi informado (pelo BC) que a decisão era técnica, se valeu de critérios unicamente técnicos, e era responsabilidade de técnicos do Banco Central."
Loyola afirmou que não foi possível uma solução negociada com o Bamerindus porque nenhuma das propostas apresentadas pela instituição incluia o aumento de capital -condição considerada fundamental pelo BC para resolver os problemas.
A Folha apurou que Loyola chegou a ameaçar pedir demissão do cargo caso o Planalto decidisse preservar o controle do bancos nas mãos do senador.

LEIA MAIS sobre a intervenção no Bamerindus nas págs. 2-3 a 2-5

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