São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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Saudades da competição

CLÓVIS ROSSI

Frankfurt - Na sede do IG Metall, o poderoso sindicato alemão dos metalúrgicos (2,5 milhões de membros), respira-se certa saudade do comunismo.
Não, não é uma questão ideológica. O IG Metall é tão parte do establishment que seu líder, Klaus Zwickel, tem um lugar na direção da Volkswagen, de acordo com a legislação alemã de co-participação dos trabalhadores na gerência das empresas.
Como se fosse para acentuar essa institucionalidade do poderoso sindicato, o hall da sede está hoje decorado com painéis representando notas gigantes de 100 e 200 marcos, além de uma de mil, que nem existe.
É obra de estudantes de artes plásticas que o sindicato convida, todo ano, para redecorar a entrada, com a liberdade de escolher, bem longe do chamado realismo socialista, algo tão profundamente capitalista como notas de DM, o Deutsche Mark.
A saudade vem da constatação de que o fim do comunismo deixou sem concorrência o capitalismo, "que se tornou muito mais duro", como diz Sabine Blum-Geenen, encarregada de Relações Internacionais do IG Metall.
Tão duro que, no caso alemão, avança sobre a "economia social de mercado", fórmula que compreende a co-participação e também uma formidável teia de proteção social.
Sabine acha que as concessões aos trabalhadores, nos anos pós Segunda Guerra Mundial, equivaleram, em parte, à entrega de anéis para não perder os dedos (para o comunismo).
Hoje, sem a concorrência com o sistema rival, o capitalismo trata de recuperar parte dos anéis.
Depois de alguns anos de paralisia, no entanto, o movimento sindical, em toda a Europa, volta a ganhar as ruas. Sabine atribui tais manifestações ao fato de que "os trabalhadores já não podem renunciar mais a seus salários e a seus direitos". Ou seja, querem apenas que os DMs pintados nas paredes do sindicato cresçam também nos seus bolsos.

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