São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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Histeria na CPI

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Uma histeria toma conta da CPI dos Precatórios e merece ser registrada.
Vale dizer que essa ansiedade é em grande parte vitaminada pela mídia, que pressiona sem parar por fatos espetaculares a cada dia.
Por conta disso, alguns assessores e senadores que participam das diligências se sentem acuados. Sabem ter a obrigação de não permitir que tudo termine em pizza. Ou de, pelo menos, não deixar que essa imagem de impunidade se propague.
Ato contínuo, esses assessores e senadores acabaram formando juízo a respeito da culpabilidade de determinadas pessoas. E não querem nem saber. Falam desses supostos culpados como se fossem assassinos de criancinhas.
Algumas declarações se assemelham às de torcedores de futebol. São pura emoção e zero de razão.
O fato é que existem poucas provas conclusivas sobre a famigerada formação de quadrilha dos envolvidos no escândalo todo.
Há, apenas, muitos indícios. Algumas provas isoladas contra alguns. Ainda assim, são em grande maioria delitos de ordem fiscal. Basta que os envolvidos paguem suas contas. Ao fazer isso, sairão ilesos.
Já a comprovação da formação de quadrilha é uma espécie de "wishful thinking". Apenas um desejo.
Não que não seja um desejo nobre. Afinal, qualquer pessoa de bem assistindo os depoimentos da escória que visitou a CPI teria, no mínimo, vontade de vomitar.
Infelizmente, para punir essa suposta quadrilha é preciso mais do que sentir ânsia de vômito. É necessário resguardar o Estado de Direito que vigora neste país.
"Você estragou a notícia. Ficou fazendo a defesa desse bandido", disse outro dia um assessor da CPI acerca do espaço que esta coluna dedicou para um dos acusados da tal "formação de quadrilha" dizer o que pensava.
Para o bem da CPI, o pensamento desse assessor não é predominante. Mas essa linha de raciocínio está lá, tem adeptos e é muito perigosa.

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