São Paulo, sábado, 29 de março de 1997
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Melhorou muito

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Palmas para d. Ruth Cardoso. Relançou o seu complicado programa da Comunidade Solidária e, sensível aos reclamos da plebe ignara, trocou o Betinho pela Daniela Mercury.
Como o movimento bolado e dirigido pela primeira-dama precisa de visibilidade (a palavra está mais em moda do que o senador Requião), convenhamos que, em matéria de visual, o Betinho não é lá essas coisas. Admiro-o em seu estóico patriotismo, mas admiro muito mais a Daniela Mercury, que nem precisa ser patriota para me agradar.
Não que ela seja bonita, embora, perto do Betinho, acho que até o frei Damião dá para o gasto. Mas é que a baiana tem um molejo sensual, uma alegria exaltada que muito beneficiará a nova modalidade do pão dos pobres, da sopa do Zarur -ou de qualquer outro nome que o movimento de dona Ruth venha a ter.
Já se passaram dois anos, e o governo do marido de dona Ruth, tirante o agressivo mutirão pela reeleição, ficou no conceitual, na banalidade de uma campanha eleitoral que promete durar outros dois anos.
A solidariedade fragmentada prometida pela comunidade da primeira-dama tem a pretensão de responder à vacuidade do governo no campo social. Como diziam os mestres-escolas de antigamente, senão vejamos:
A estabilidade da moeda, apesar de que ninguém pode prever até quando vai durar e quanto vai custar, deu um refresco na fome: comeu-se frango e tomou-se iogurte dentro do orçamento doméstico. Mas basta andar pelas ruas e frequentar as esquinas e botecos do Nelson Rodrigues para constatarmos o pânico pelo desemprego. Com as reformas prometidas, parece que ninguém mais tem segurança de receber salário.
O único trabalhador que ainda pode esperar melhores dias é o próprio presidente da República: se for reeleito, terá mais quatro anos com direito a contracheque no fim do mês.

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