São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Elas fazem tudo por uma 'ponta' na F-1

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Época de GP de Fórmula 1 é uma correria para essas mulheres. Na tentativa de se aproximar dos pilotos, ou dos mecânicos que seja, elas seduzem seguranças, atravessam portões em caçamba de furgão e até inventam credenciais.
"Eu disse na porta do autódromo que sou repórter da (TV) RBS", conta a gaúcha Valéria Martins, 22, que viajou 1.200 quilômetros de Porto Alegre a São Paulo, em seu Corsa 1.0, para participar domingo do "circo" do GP Brasil.
Valéria chegou na quinta-feira e foi direto para Interlagos. "Já tirei fotos com os mecânicos de todas as equipes, nos boxes, e com alguns pilotos", disse ela, na quinta.
Nas várias idas e vindas do autódromo, na sexta e no sábado, Valéria teve de inventar maneiras alternativas de burlar a segurança.
"Cheguei a pegar carona de furgão e, no portão, antes de entrar, colocava o cabelo por cima do seio, como se a credencial estivesse por embaixo", conta.
Todo mundo "acreditou". Valéria tomou a precaução de vestir uma minissaia que descobria embaixo tudo o que o cabelo cobria em cima. "Os seguranças se divertiam comigo", conta. "Fiz aquela linha 'Debi & Lóide' (comédia americana)." (leia depoimento ao lado).
18 horas
Como Valéria, a goiana Cibele Resende, 19, viajou muito para assistir ao GP. Ela é de Montes Claros (GO). "Só que eu vim de ônibus", conta. "Dezoito horas."
Na quinta-feira ela estava disposta a enfrentar outra maratona. Pretendia passar a noite no aeroporto de Guarulhos, para receber os pilotos quando eles chegassem, de manhã bem cedo.
Cibele revela que não é muito constante na idolatria aos pilotos. "Este ano quero chegar perto do (alemão Heinz) Frentzen", diz. "Mas já fui alucinada pelo (inglês) Damon Hill."
Sua grande esperança era conseguir uma credencial que desse acesso inclusive aos boxes.
"Adoro tudo que envolve uma corrida de Fórmula 1", diz. "Acho lindo, por exemplo, ver os mecânicos trocando pneu, aparafusando uma porca que seja no motor."
Pouca instrução
Outra que não tem restrições quando se trata de profissionais da Fórmula 1 é a intérprete Isabella J., 26. "Os mecânicos têm pouca instrução, mas eu não sou preconceituosa", afirma ela, que chegou a ficar noiva de um da McLaren.
"Ele era simples, mas me tocou fundo", resume. "Só não continuamos porque a distância esfriou o relacionamento."
Isabella conheceu o ex-noivo em uma festa pós-corrida. "Os ingleses são tímidos, mas esse me olhou bastante. Não sei o que ele viu em mim", diz, modesta. "Tem tanta mulher bonita nessas festas."
Isabella afirma que é apaixonada por Fórmula 1 desde os 14 anos. "Conheço todo mundo do meio."
Quando pode, ela não se importa em passar seus conhecimentos adiante. "A maioria dos mecânicos e pilotos estrangeiros acha as mulheres brasileiras muito dadas", ela alerta.
"Comigo eles têm um relacionamento ótimo. Sabe por quê? Porque eu não fico pulando neles em saguão de hotel."
Isabella se orgulha de suas conquistas, "mesmo como amiga".
"O Jacques Villeneuve, por exemplo, que todo mundo diz que é metido, pára na rua em Paris para me cumprimentar", afirma.
Ela nega que seja apaixonada por Villeneuve, mas, pela quantidade de vezes que cita o nome do piloto, ele tem chances. "Gosto do Jacques como ser humano", diz.

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