São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CPI descobre cheques que ligam Ramos a 'laranjas'

Documento contraria depoimento de ex-assessor de Pitta

DANIEL BRAMATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Precatórios obteve ontem cópias de cheques que contestam a versão apresentada por Wagner Baptista Ramos, ex-coordenador da Dívida Pública da Prefeitura de São Paulo, sobre a origem de seus recursos.
Trata-se de um cheque nominal de R$ 52,5 mil para Ramos, emitido pela Negocial Commodities, além de outros quatro, no valor total de R$ 59 mil, emitidos por Álvaro Luís Marques da Silva, um dos beneficiários de depósitos da IBF Factoring, empresa "laranja" do esquema dos títulos públicos.
À Comissão Parlamentar de Inquérito, Ramos declarou que todos os recursos que recebeu (R$ 150 mil no Brasil e um crédito de US$ 1,3 milhão nos EUA) haviam sido pagos pela corretora Perfil, com quem tinha um contrato.
A CPI trabalha com a hipótese de que a Negocial Commodities seja um "braço" da distribuidora de títulos homônima, empresa que está sob investigação por suposta participação no esquema.
O possível elo entre Ramos e a Negocial já havia sido denunciado pelos proprietários da corretora Perfil, Gerson Martins, Luiz Calábria e Rubens Sensi, mas a comissão não obteve provas.
Os três sócios disseram aos senadores que "alugavam" a Perfil para que Ramos pudesse receber comissões do Banco Vetor.
Afirmaram ainda que foram apresentados ao então funcionário da Prefeitura de São Paulo "pelo pessoal da Negocial".
A afirmação foi negada com veemência tanto por Ramos quanto pelos donos da Negocial, Fábio Pazzanese e José Luís Priolli, em acareação promovida pela CPI.
Pazzanese chegou a denunciar uma "conspiração" contra sua empresa e anunciou que abriria processos contra todos que citassem a Negocial como envolvida no esquema de comercialização irregular de títulos públicos.
O cheque da Negocial Commodities para Ramos foi emitido no dia 30 de setembro de 96. No verso há uma observação impressa indicando que o cheque "destina-se a operação de pregão".
IBF
A CPI considera que os cheques de Álvaro Luís Marques da Silva para Ramos são a primeira prova de sua ligação com a IBF Factoring, empresa do "laranja" confesso Ibrahim Borges Filho.
Ramos recebeu os quatro cheques em maio, junho e julho do ano passado. No final de julho, Marques da Silva recebeu um depósito de R$ 206,2 mil da IBF em sua conta no Banco Bandeirantes.
Outro lado
O advogado de Ramos, Márcio Thomaz Bastos, confirmou ontem que seu cliente recebeu um cheque de R$ 52 mil da Negocial, mas disse não ter "a menor noção" sobre os depósitos vindos de Álvaro Luís Marques da Silva.
"O cheque da Negocial está na declaração de Imposto de Renda dele, que já foi entregue à CPI. Sobre o resto não sei", declarou.
O advogado informou que apenas Ramos poderia prestar esclarecimentos sobre o assunto e que o contato com seu cliente só poderia ser feito hoje.

Colaborou a Reportagem Local

Texto Anterior: Diretor do BC pode ter contas abertas
Próximo Texto: Ex-aliado descarta impeachment em SC
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.