São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997 |
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Dificuldade não estimula pianista José Cocarelli
JOÃO BATISTA NATALI
Ele será o solista do "Concerto nº 2", op. 83, de Brahms. A orquestra, sob a direção de seu titular, Jamil Maluf, também interpretará, de Ravel, "Pavana para uma Infanta Defunta" e, de Mussorgski, "Quadros de Uma Exposição". Cocarelli foi em 1985 o primeiro prêmio do Concurso Internacional Busoni e, em 86, também primeiro prêmio do Concurso Marguerite Long-Jacques Thibaud. Em entrevista à Folha, ele diz que os concursos são o caminho para que um principiante se faça conhecer na Europa. Eis os principais trechos de sua entrevista: Folha - Quais são as dificuldades que um pianista estrangeiro encontra na Europa? José Carlos Cocarelli - A única solução é a que eu adotei: tornar-se conhecido por meio de prêmios nos grandes concursos internacionais. É um cartão de visitas, que pode se acompanhar por gravações e boas críticas nas revistas. Folha - Não há também a interferência de empresários, "donos" de determinados circuitos? Cocarelli - Não poderia responder a essa pergunta. Sou um péssimo "homem de negócios", o que faz com que meus próprios empresários arranquem os cabelos. Folha - Qual sua avaliação sobre o repertório para piano na Europa: aposta-se em peças conhecidas ou há ousadias contemporâneas? Cocarelli - Conheço bem mais a França. Há público e curiosidade para com a música contemporânea, que é objeto de investimentos significativos por parte do governo. Mas quando se fala de preferência mais ampla, os franceses apreciam sobretudo Mozart, tanto quanto os norte-americanos gostam de compositores românticos, como Tchaikovski. Folha - Sua agenda inclui mais acompanhamento com orquestra ou recitais solo? Cocarelli - Este ano, eu tenho excepcionalmente me apresentado mais sozinho. Voltando para a França, tenho uma agenda com mais música de câmara. Folha - Quando acompanhado por uma orquestra, ocorrer algum confronto com algum maestro, em torno da concepção da partitura a ser executada? Cocarelli - Eu sempre tenho minha própria visão, mas não procuro fazer com que ela prevaleça. E também aceito de muito bom grado a visão de um maestro. Folha - Ao escolher o repertório de um recital, o sr. tem por hábito colocar alguma peça brasileira? Cocarelli - Não ocorre com frequência. Minhas preferências muito pouco dissimuladas são pelo repertório romântico alemão, um pouquinho de Mozart, Prokofiev. Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone, Camargo Guarnieri são compositores brasileiros que estudei e que posso eventualmente incluir num programa. Folha - Quais os compositores que ainda representam para o sr. um grande desafio? Cocarelli - Há muitas obras que eu gostaria de "enfrentar" nesse repertório quase ilimitado. Gostaria de tocar certos concertos de Bartok, Samuel Barber e Ravel, o "Concerto nº 3" de Rachmaninov, que ainda não tive tempo ou concentração para estudar e que é um dos mais difíceis do repertório. Folha - A dificuldade o estimula? Cocarelli - Não especialmente. Brahms é difícil. Mas não foi por causa disso que eu escolhi para tocar em São Paulo seu "Concerto nº 2". Faço minha escolha por gostar bastante de certa obra. Folha - O fato de um grande pianista ter gravado determinada peça não provocaria num pianista de sua geração certa inibição? Cocarelli - Não poderia me sentir inibido sem correr o risco de abandonar tudo... Todos os grandes pianistas gravaram sonatas de Beethoven. Não é por isso que não se deva fazer o mesmo. Grandes valores continuarão a ser grandes valores, e valores menores nunca deixarão de ser valores menores. Concerto: Orquestra Experimental de Repertório, dir. Jamil Maluf, com José Carlos Cocarelli (piano) Quando: amanhã às 21h; domingo, 17h Onde: Teatro Municipal, pça Ramos de Azevedo s/n, tel. 222-8698 Quanto: R$ 2 a R$ 8 Texto Anterior: Italiano Benedetto Lupo abre evento Próximo Texto: Livraria na rede cresce e dá desconto Índice |
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