São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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GAFES EM PORTUNHOL

Depois de um constrangimento vexatório -mais um, aliás-, os governos do Brasil e da Argentina conseguiram chegar a um acordo que exclui por 120 dias os produtos do Mercosul do regime brasileiro de restrição ao crédito para importações.
Sabe-se que a engenharia intervencionista do governo terá um efeito marginal, quando muito, sobre o volume de importações brasileiras.
Mas se a medida, em si mesma, já inspirava dúvidas em termos de seus custos e benefícios econômicos, do ponto de vista político esse novo entrevero no Mercosul é lamentável.
Fica mais uma vez evidente a distância entre a retórica da integração no Cone Sul e as dificuldades práticas que deverão ser enfrentadas no caminho de sua realização.
Como sublinhou o deputado federal Delfim Netto (PPB-SP), em artigo na Folha, a questão agora se resume a tentar adivinhar qual será o próximo casuísmo, pois não é nada além de casuísmo o governo tratar de desequilíbrios do comércio exterior com medidas tópicas, artificiais e de efeito limitado no tempo.
As dificuldades inerentes a essa política de comércio mal-ajambrada tornam-se ainda mais patéticas quando é o próprio ministro da Fazenda, Pedro Malan, quem reconhece que a reação da Argentina às medidas brasileiras decorreu da falta de comunicação entre os governos.
Que integração é essa em que os parceiros sequer se comunicam eficientemente sobre temas relevantes?
De resto, o mesmo ministro esforça-se por diferenciar, na tentativa de justificar as medidas restritivas, entre combate à especulação de importadores e motivações protecionistas.
As limitações ao crédito estariam no primeiro caso, pois o governo pretenderia apenas combater a vantagem dos importadores com a diferença entre juros internos e externos.
Resta saber se essa retórica sobreviverá caso as medidas se revelem insuficientes, como se avalia, para conter a onda de importações que desequilibra as contas externas.

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