São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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Covas e seus remédios

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Sem querer desejar o mal, dá um certo alívio saber que integrantes do governo tucano não tinham poder durante o governo militar.
Se hoje, na democracia, são arrogantes, que dirá num regime de exceção.
Um caso clássico é o governador de São Paulo, Mário Covas.
Ele padece de um defeito grave. Acha que faz um favor para a população paulista ao governar o Estado. Se erra, nunca foi por mal.
Quando se refere à barbárie da PM em Diadema, fala que "a única coisa que dá para fazer" é tentar remediar. Abusa da paciência dos eleitores.
Há momentos em que o governante deve medir as palavras. Uma de suas funções, goste ou não, é gerar expectativa positiva na população. E preencher essas expectativas no futuro.
Só que Covas é teimoso e seu negócio é mesmo remediar. No ano passado, a bancada de deputados aliados tucanos na Assembléia Legislativa pediu a ele que demitisse o secretário da Segurança, José Afonso da Silva.
Poderia ter feito isso. Não fez. Agora, vai remediar.
Afonso, um safenado que sofreu de isquemia coronariana, tem recomendação médica para evitar problemas emocionais. Está provado que não tem o comando da PM.
Por ter sido pressionado, Covas emburrou e se nega a demitir Afonso.
Desse episódio todo, o governador paulista emerge como uma esfinge. Indecifrável em seu mau humor, mete medo em seus colegas de partido.
Quando houve o massacre dos sem-terra no Pará, o governador local, Almir Gabriel (PSDB), sofreu uma intervenção branca do alto tucanato. Uma revoada de caciques de Brasília foi meter o bedelho por lá, com razão.
Agora, com Covas, só se ouve declarações anódinas. Até o ulyssista tucano José Gregori, que tanto deseja se tornar ministro dos Direitos Humanos, nada fez.
A esfinge Mário Covas apavora e é inexplicável que isso ocorra. A não ser que os tucanos apenas sejam pessoas muito suscetíveis, que simplesmente se apavoram com cara feia.

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