São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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Polícias

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Agora que apareceu no "The New York Times", na CNN, no "The Independent", no "Clarín", no "Corriere della Sera", no "Le Monde", a polícia brasileira se internacionalizou de novo.
Por aqui, chocou as elites a que ela, polícia, surgiu para servir, como gosta de lembrar o delegado Hélio Luz, chefe da Polícia Civil do Rio.
Para Luz, a polícia no Brasil foi criada para isso mesmo: proteger os ricos e detonar os pobres.
Não é desde sempre. Mas principalmente a partir de Getúlio Vargas (1883/1954) e a famigerada Polícia Especial de Filinto Muller (1900/1973).
Foi depois do início do ciclo militar, em 64, no entanto, que a coisa esquentou. Para o lado dos inimigos do regime e, como sempre, dos pobres.
Os artistas, antenas da raça, são um bom termômetro das mudanças. Principalmente os músicos.
Veja que no começo do século o clima era tão ameno que o chefe da polícia aparece envolvido em cordialidade em "Pelo Telefone", primeiro samba gravado na história por Donga.
Porém quem se recorda da música de Chico Buarque, da década de 70, em que ele "chama o ladrão" para o proteger, percebe a, digamos assim, mudança de ares.
Isso na área política, porque entre os pobres a barra pesava, de outro lado.
Como se pode observar em letras de grupos punks paulistas (ou seja, de origem proletária), a polícia é o que é há tempos.
Em "Maldita Polícia", os Inocentes afirmam que não dá para "confiar em quem tem uma arma na mão". O Espermogamix achava, há quase 20 anos, que o policial, "sem essa farda, não passa de um coitado".
Na evolução das observações musicais e na passagem do tempo, o conceito em relação ao homem fardado não mudou muito. Tanto que já em seu primeiro disco a Legião Urbana diz que ele "pede a identidade pra depois me bater/fala em liberdade pra depois me prender", os Paralamas notam que "a polícia apresenta suas armas" e os Titãs indagam "quem precisa de polícia?".
De fato: dessa polícia, quem precisa?

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