São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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PMs evitam ocorrências com confrontos

DA FT

Por conta do episódio de Diadema, os policiais estão evitando as ocorrências com confrontos, com medo de matar ou balear alguma pessoa e serem comparados aos dez policiais acusados de extorsão, tortura e execução.
A companhia da PM que mais trabalhou entre as 10h de quinta-feira e a madrugada de ontem, foi a 3ª do 9º Batalhão. Recolheu três pessoas baleadas ao pronto-socorro do Hospital Municipal de Vila Nova Cachoeirinha e prendeu dois adolescentes acusados de roubo.
Se dependesse da maioria dos soldados, a greve branca ou operação tartaruga já estaria decretada. "Não vale a pena se empenhar. Se prendo uma pessoa, acabo virando réu. Se troco tiro com um bandido, vou cuidar de pombo na praça da Sé ou para a muralha da Detenção. Para que, então, levar a sério o meu trabalho? A sociedade não exige uma polícia mole, doce? Então vai ter isso. Eu, particularmente, não vou entrar em fria pra salvar ninguém", disse um cabo que não deu o nome.
Prender alguém em flagrante depois das 3h da madrugada, ficou difícil. "Para quê? Para perder o horário do bico, para ser chamado em juízo e ficar mofando no banco de uma delegacia? Flagrante só se for um caso muito grave, que não dá para deixar passar", disse um soldado da 2a Companhia do 1º Batalhão.
Na região central quase não se via carros da PM rodando. Havia apenas uma, no 3º DP, que foi levar uma pessoa que havia sido assaltada. Aparentando embriaguez, a vítima destratou um cabo da 2ª Companhia do 7º Batalhão, que não reagiu. "Isso ninguém vê. Se reajo, sou arbitrário, despreparado, violento. Não vale a pena."
No 77º DP, Santa Cecília, um carro do patrulhamento tático móvel atendeu um caso de acidente de trânsito com danos materiais, levando as partes para a delegacia. Um sargento, que não quis dizer o nome, falou que foi o único caso que a equipe dele atendeu em sete horas de trabalho. "E foi muito. Não vou ficar por aí procurando sarna para me coçar."
Os comandantes negam, mas os policiais dizem que os soldados estão confinados em suas companhias, com medo de ser envolver em ocorrências graves.

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