São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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Grupo que invadiu imóvel assina contrato

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As 24 famílias de ex-moradores do cortiço da rua Tomás de Lima, 85, Sé, que ocuparam o conjunto de três casarões da USP (Universidade de São Paulo), na esquina das ruas Pirineus e Brigadeiro Galvão, em Campos Elíseos, centro de São Paulo, assinaram contrato de locação com a universidade e regularizaram sua situação.
Segundo a USP, o contrato é inédito. A assessoria de imprensa da reitoria da universidade informou que a universidade tem imóveis herdados (caso do conjunto, veja texto abaixo) alugados, mas que é a primeira vez que um imóvel invadido é alugado.
O contrato deveria ter sido assinado às 10h de ontem, mas um erro em uma das cláusulas, segundo Verônica Kroll, do Fórum dos Cortiços, movimento que organizou a ocupação, atrasou o trabalho da advogada Marly Yamamoto, da USP, e os contratos foram assinados somente à tarde.
Segundo Verônica, a advogada não deixou claro, nem a USP, em comunicado oficial, se o contrato, com duração de três meses, poderá ser prorrogado caso a universidade não consiga compradores para fechar o negócio.
Até junho, quando está previsto o início da licitação para a venda, cada família pagará R$ 50 mensais pelos cômodos que ocuparão.
Os cômodos foram numerados e as famílias já terminaram a mudança para o conjunto. Cada cômodo, como num prédio de apartamentos, tem um responsável que assinou contrato ontem.
"Falta terminar a limpeza do entulho e ligar a água e luz", disse Verônica. Segundo ela, isso só será possível depois que a advogada Marly entregar as cópias dos contratos assinados pelo reitor Flávio Fava de Moraes, o que acontecerá segunda-feira.
Melhor
Apesar de ainda estar sem luz e água na nova casa, o ambulante José Ronei dos Santos, 26, disse que está vivendo melhor que no cortiço.
"Eu acho que estou morando num palácio. Com as reformas que faremos, vai ficar muito legal."
As reformas a que se refere são a retirada do entulho, a retirada da vedação de cimento das entradas da casa, a pintura dos cômodos e a instalação de luz e água.
"Vamos ter que colocar umas portas também", lembrou.
Outro que estava feliz com a mudança era o pedreiro José Laurício Ferreira da Silva, 30, que vai morar com mais dois amigos no cômodo que alugou.
"Aqui nem se compara ao cortiço. Lá tinha rato correndo atrás de cachorro."

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