São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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Rebeldes tomam capital do diamante

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os rebeldes do Zaire ocuparam ontem a capital da principal região diamantífera do país, na véspera do começo das negociações com o governo de Mobutu Sese Seko.
"Liberamos a cidade, vocês não têm nada a temer. Fiquem em casa", disseram, por rádio, os guerrilheiros aos moradores de Mbuji-Mayi, capital da Província de Kasai Oriental.
Segundo a agência "France Presse", os soldados leais ao presidente Mobutu saquearam a cidade horas antes da sua conquista pelos guerrilheiros liderados por Laurent Kabila.
Guerrilha forte
O representante de Kabila para assuntos internacionais, Bizima Karaha, já está em Pretória, África do Sul, para negociar com representantes de Mobutu.
Ele acusou seus parceiros na negociação de não estarem preparados para discutir a questão da guerra civil com seriedade.
"Damos até amanhã para eles se decidirem (a negociar seriamente). Viemos para a negociação e estamos prontos", disse.
Até a tarde de ontem, o governo sul-africano ainda não havia divulgado a pauta e a agenda das reuniões, previstas para começar hoje. Também não estava claro se os representantes do governo de Mobutu já estavam na cidade.
No momento, Kabila, que comanda uma guerrilha majoritariamente de etnia tutsi, está militarmente mais poderoso do que as tropas do governo. Ele já conquistou um quarto do país na parte leste, inclusive Kisangani, a terceira maior cidade, e ruma para Lubumbashi, a segunda maior.
O objetivo declarado de Kabila é derrubar o governo. O general Mobutu Sese Seko Kuku Ngbendu wa za Banga (seu nome completo africanizado, que significa "o galo que canta vitória, o guerreiro que vai de conquista em conquista sem que ninguém o possa deter") é o ditador do Zaire há 32 anos, mas, doente, vai perdendo progressivamente o controle do país.
Refugiados
Mas outro efeito da guerra civil travada entre as forças de Mobutu e de Kabila é a fuga de refugiados de outras guerras civis étnicas da África Central.
Segundo o chileno Roberto Garretón, relator da Comissão de Direitos Humanos da ONU para a situação no Zaire, nos últimos cinco meses os tutsis de Kabila já mataram entre 20 mil e 100 mil pessoas, a maioria da etnia rival, os hutus.
Garretón disse que a imprecisão dos relatos sobre as matanças não permite que um número mais preciso de vítimas seja determinado.
Mas Kabila diz que não houve matanças. "Por que faríamos isso? Se quiserem, podem fazer uma investigação", disse o líder rebelde em Goma, leste do país.
O Acnur, órgão das Nações Unidas para refugiados, disse que 120 refugiados hutus morrem por dia na região, o triplo do que seria normal em campos de refugiados. Há 80 mil refugiados em campos naquela área.
Eles deixaram Ruanda e Burundi quando a guerra civil se restringia àqueles países. Agora, com a ação dos homens de Kabila, milhares voltaram a vagar pela região.
O Acnur pediu aos rebeldes permissão para levar hutus a Kisangani, para de lá repatriá-los de avião para Ruanda.
Mas os rebeldes recusaram a proposta, por temer que entre os refugiados haja antigos soldados hutus de Ruanda, que passariam a lutar ao lado do Exército zairense.
Outro órgão na ONU, o Unicef (fundo que trata da situação da infância), relatou que há 250 mil crianças desacompanhadas vagando no leste do Zaire.

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